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COVID-19 pode levar sistema imune à exaustão mesmo em jovens com quadro leve ou moderado

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Dados preliminares de um estudo feito na Universidade Estadual Paulista (Unesp) sugerem que a infecção pelo SARS-CoV-2 pode causar alterações severas no sistema imunológico até mesmo em pessoas jovens e saudáveis, com quadros leves ou moderados de COVID-19. No trabalho, pesquisadores brasileiros e portugueses avaliaram células de defesa de indivíduos não vacinados entre 30 e 180 dias após a infecção.

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“As células imunes dos pacientes infectados pelo vírus estavam em exaustão, algo semelhante ao que acontece com as células de pessoas com obesidade grau 2 ou 3, com doenças crônicas, como diabetes, ou já idosas. Mas é algo completamente inesperado para pessoas jovens e sem problemas de saúde”, conta à Agência FAPESP Fábio Santos de Lira, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT-Unesp), campus de Presidente Prudente.

Os dados, que foram apresentados em congresso promovido pela Sociedade Internacional de Imunologia e Exercício nos Estados Unidos, integram o projeto FIT COVID, apoiado pela FAPESP. O objetivo do grupo, que envolve pesquisadores de instituições paulistas e da Universidade de Coimbra (Portugal), é investigar os efeitos da COVID-19 nos sistemas imune, vascular e nervoso autônomo (ramo do sistema nervoso central que controla respiração, circulação sanguínea e outras funções vitais) de pessoas com menos de 40 anos e que apresentaram quadros leves e moderados da COVID-19. A proposta é acompanhar o impacto da doença nos voluntários até dois anos depois da infecção.

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“Nosso projeto busca saber os efeitos da COVID-19 na população jovem e saudável, que foi totalmente negligenciada no início da pandemia. Esses indivíduos foram para o hospital, tiveram o diagnóstico, mas, como tinham sintomas leves ou moderados, não foram assistidos. Então, voltaram para casa e fizeram o isolamento sem nenhum acompanhamento. No entanto, nossos estudos estão mostrando que até mesmo essas pessoas, ao serem infectadas, podem ter sofrido fortes prejuízos nos sistemas analisados”, afirma Lira.

O pesquisador explica que o principal sinal das alterações observadas no sistema imunológico desses indivíduos foi o cansaço extremo. O grupo comparou o sistema imune de 20 pessoas infectadas com o de 20 não infectadas e observou uma série de alterações naquelas que tiveram COVID-19, entre elas função pulmonar prejudicada, menor nível de atividade física e – ao contrário dos pacientes que tiveram doença grave – menor concentração de moléculas pró-inflamatórias conhecidas como citocinas, que são produzidas para avisar o sistema imune sobre a necessidade de enviar mais células de defesa ao local da infecção.

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“Isso é uma autorregulação do sistema imune. Talvez, por conta da baixa quantidade de citocinas, esses indivíduos não tiveram a forma grave da doença. Foi um mecanismo que conseguiu contrabalançar os efeitos do vírus. Isso porque houve diminuição da interleucina-6 [importante mediador da resposta inflamatória conhecida como tempestade de citocina]. Além disso, houve aumento da interleucina-10 e do receptor solúvel do TNF-alfa [citocinas anti-inflamatórias]. Houve também aumento da prostaglandina, que é uma molécula inflamatória, e alteração do perfil lipídico – esses indivíduos apresentavam a fração de triglicérides elevada e mais leptina [hormônio envolvido na regulação do apetite]”, explica.

A coleta das amostras ocorreu em maio de 2021, quando essa população ainda não tinha sido vacinada. Além dos dados mensurados logo após a infecção, os pesquisadores colheram amostras de sangue desses pacientes após o esquema vacinal completo (quando todos já haviam sido vacinados) e vão colher com um ano após a vacinação.

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Exaustão

O pesquisador explica que, por serem jovens e clinicamente saudáveis, o esperado era que essas pessoas apresentassem pequenas alterações no sistema imune. “Mas o que vimos ao avaliar o metabolismo energético das células imunológicas é que ele está completamente alterado. O vírus consegue reprogramar as células imunes e levá-las para um status totalmente inflamatório. Trata-se, portanto, de um vírus muito agressivo, mesmo para pessoas jovens, saudáveis e comprovadamente sem nenhum problema clínico”, ressaltou Lira.

Outro achado do estudo foi o papel parcialmente protetor da atividade física contra os efeitos prejudiciais do SARS-CoV-2 no sistema imune. Ao analisar as células de defesa, entre elas monócitos e linfócitos T, os pesquisadores observaram que os indivíduos infectados apresentavam um perfil anti-inflamatório reduzido das células T reguladoras. Já a proteína PD1 – que tem a função de impedir que as células T ataquem outras células do corpo – estava aumentada tanto nos linfócitos T CD4 quanto T CD8.

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“De maneira curiosa, o nível de atividade física desses pacientes protegeu parcialmente contra as alterações no sistema imune. Quanto maior o nível de atividade física, maior era a proteção contra as alterações na [célula T] CD8, mas não na CD4”, diz o pesquisador.

Os pesquisadores analisaram ainda a condição muscular, medindo a força de pressão da mão e realizando testes como sentar e levantar, caminhada de seis minutos e de força do quadríceps.

“Entre os parâmetros de força muscular, só encontramos diferença no teste de seis minutos. O grupo COVID percorreu uma distância menor que o grupo-controle. Mas quando analisamos a parte respiratória – a função respiratória, tanto absoluta quanto relativa, e o volume forçado – tudo estava prejudicado estatisticamente no grupo infectado. Todos os valores foram menores. Portanto, isso confirma que eles tiveram comprometimento da função pulmonar e também na tolerância ao exercício”, afirma.

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Também foi avaliado o metabolismo energético das células imunes, o que mostrou uma predominância do metabolismo glicolítico [geração de energia por meio da quebra de glicose] na produção de energia do organismo. “A predominância do metabolismo glicolítico significa que há um caráter pró-inflamatório. Portanto, a célula está exausta, pois está produzindo muita citocina em repouso e, quando estimulada, ela não responde. Todo esse quadro demonstra uma enorme deficiência no sistema imune”, diz.

Alterações no sistema nervoso

Além do monitoramento do sistema imune de indivíduos jovens que tiveram COVID-19 antes de serem vacinados, o FIT-COVID está analisando os prejuízos ocorridos no sistema nervoso autônomo – que funciona de modo involuntário para que ocorram os batimentos cardíacos, por exemplo. Os dados mostram que, cinco meses após estarem curados da doença, os prejuízos no sistema nervoso autônomo se restabeleceram, voltando à normalidade.

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Os resultados desse braço da pesquisa foram apresentados em dois artigos científicos publicados na revista Environmental Research and Public Health em fevereiro de 2022 e em janeiro deste ano (leia mais em: agencia.fapesp.br/38061/).

Vale lembrar que o sistema nervoso autônomo é dividido em duas partes: o sistema simpático e o parassimpático. O sistema simpático é responsável pelas alterações no organismo em situações de alerta, preparando o organismo para enfrentar ou fugir de uma ameaça. Envolve, portanto, maior gasto de energia. Cabe a esse ramo aumentar a frequência cardíaca e a pressão arterial, liberar adrenalina, contrair e relaxar músculos, dilatar os brônquios, dilatar as pupilas, aumentar a transpiração. Já o sistema nervoso parassimpático normaliza o funcionamento dos órgãos internos depois da situação de alerta.

Nessa parte do estudo, a análise da frequência cardíaca até 180 dias após os indivíduos terem sido infectados mostrou uma atividade simpática aumentada durante o repouso.

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“É esperado que no repouso a atividade parassimpática esteja mais alta que a simpática, pois o sistema nervoso simpático está relacionado com a atividade física. Se uma pessoa precisa sair correndo de repente por algum motivo é o sistema nervoso simpático que controla as respostas do corpo, como aumento da frequência cardíaca, a esse estresse. Portanto, especialmente em adultos jovens e saudáveis o esperado seria uma atividade parassimpática no repouso superior à atividade simpática”, explica Ana Paula Coelho Figueira Freire, professora da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) e primeira autora dos artigos.

Freire ressalta que o desequilíbrio no sistema nervoso autonômico encontrado em pessoas jovens e saudáveis infectadas pelo SARS-CoV-2 pode estar relacionado com níveis inflamatórios mais altos. “Alguns fatores que podem estar associados a esse desequilíbrio no sistema nervoso autônomo e sua recuperação cinco meses depois é o controle da tempestade inflamatória ao longo do tempo. É o sistema imune se recuperando e reduzindo os níveis inflamatórios, podendo impactar isso no sistema nervoso autônomo, ou seja, a própria resolução da inflamação ao longo do tempo”, diz Freire.

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“A variabilidade da frequência cardíaca demonstrou que os índices mais elevados de sistema simpático podem estar relacionados a uma eventual comorbidade cardiovascular e até mesmo a morte súbita”, diz.

Freire ressalta que, mesmo com a recuperação do sistema nervoso autônomo após cinco meses, o achado dá uma perspectiva maior para pesquisadores e profissionais da saúde compreenderem o curso da doença. “Até indivíduos adultos jovens não estão livres de apresentar comprometimentos causados pela COVID-19. Mesmo com o sistema nervoso autônomo tendo se restabelecido numa janela de tempo de cinco meses, é relevante aprofundarmos o entendimento de como a doença se comporta, especialmente nessa população jovem”, afirma Freire.

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Além do monitoramento desses pacientes dois anos após terem sido infectados, o FIT COVID tem uma segunda fase de estudos que visa avaliar células imunes de atletas olímpicos que não foram infectados pelo SARS-CoV-2 antes de terem sido vacinados.

“Nosso objetivo é isolar as células imunes desses atletas olímpicos – sabidamente muito eficientes – e, em laboratório, observar como elas reagem ao soro sanguíneo desses indivíduos jovens e saudáveis. Queremos saber se essas células conseguem amenizar os efeitos pró-inflamatórios do soro do indivíduo infectado antes da vacina e depois da vacina”, afirma Lira.

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O artigo Role of Body Mass and Physical Activity in Autonomic Function Modulation on Post-COVID-19 Condition: An Observational Subanalysis of Fit-COVID Study pode ser lido em: www.mdpi.com/1660-4601/19/4/2457.

Já o estudo Autonomic Function Recovery and Physical Activity Levels in Post-COVID-19 Young Adults after Immunization: An Observational Follow-Up Case-Control Study está disponível em: www.mdpi.com/1660-4601/20/3/2251.

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Um entre quatro trabalhadores remotos de Criciúma (SC) e Rio Grande (RS) relatam dores nas costas durante a pandemia

A dor nas costas foi prevalente em 25,6% dos trabalhadores de home office entrevistados em Criciúma (SC) e Rio Grande (RS). É o que aponta estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) publicado na sexta-feira (17) na revista “Ciência & Saúde Coletiva”.

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As informações foram obtidas por meio de entrevistas domiciliares presenciais nas duas cidades, de outubro de 2020 a janeiro de 2021. As entrevistadoras foram treinadas e receberam equipamentos de proteção individual e orientações sobre a condução do estudo de forma segura. Ao todo, 1006 profissionais foram abordados.

Entre as pessoas que trabalharam em home office durante a pandemia, 25,6% afirmaram sentir algum tipo de dor nas costas. Entre as regiões anatômicas, a lombar representa 26% das queixas, seguida pela região cervical (11%), e a torácica, correspondendo a 8,9% dos relatos. “Os nossos dados já foram repassados para os órgãos competentes da saúde do Rio Grande do Sul e Santa Catarina para a formulação de políticas públicas”, informa a fisioterapeuta Elizabet Saes-Silva, pesquisadora e autora o artigo.

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Segundo a especialista, outro dado que chamou a atenção foi a relação entre o peso e as dores na coluna. “O estudo está mostrando um resultado que até então não havíamos observado. A pessoa com Índice de Massa Corporal (IMC) normal também sofre com dores na coluna, e não apenas aquelas com sobrepeso e obesidade”, revela a cientista, que acrescenta que houve uma diferença observada nesta análise. “Identificamos que pessoas com IMC normal sentiram dor aguda torácica, enquanto com IMC sobrepeso e obesidade tiveram dor aguda na região cervical e dor crônica na região lombar”, acrescenta.

Durante a pandemia, as dores nas costas representam o segundo maior motivo de afastamento dos empregos, conforme o Ministério Público do Trabalho, atrás apenas de acidentes em ambiente de trabalho. Dessa forma, os autores do artigo acreditam que a ergonomia também deve ser pensada como uma forma de promover a saúde: “Além de prevenir, a posição correta é necessária para não piorar as dores já existentes”, conclui Saes-Silva.

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11 mitos e verdades sobre o cérebro

Na Semana Mundial do cérebro teste o seu conhecimento sobre o órgão mais importante do corpo humano!

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Ao mesmo tempo que o cérebro é o órgão mais importante do corpo humano é também o que menos temos conhecimento. Seu funcionamento – mitos e verdades seguem sendo perpetuados em diferentes contextos.

“São inúmeros mitos sobre o cérebro, o mais conhecido deles é que usamos apenas 10% do cérebro o que também não é verdade. O cérebro é um órgão ativo que fica ligado o tempo todo enquanto estivermos vivos. A cada instante, várias áreas do cérebro estão interagindo por meio das mudanças eletroquímicas que caracterizam os impulsos nervosos. O cérebro funciona em uma constante dança combinada entre áreas em atividade e em repouso”, explicou a neurocientista do SUPERA – Ginástica para o cérebro, Livia Ciacci.

Confira 11 mitos e verdades sobre o cérebro!

Seu cérebro está totalmente desenvolvido por volta dos 18 anos de idade

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Mito! O desenvolvimento do cérebro continua bem depois adolescência e na idade adulta. E em particular, o córtex pré-frontal, que é importante para o raciocínio e tomada de decisão, não amadurece totalmente até chegarmos aos vinte e poucos anos.

O tamanho do cérebro determina a sua inteligência

Mito! O cérebro de Albert Einstein pesava menos que o cérebro médio. O cérebro do gênio, no entanto, mostrou-se relativamente conexões densas entre as áreas do cérebro. Os cientistas atribuem as conexões entre as áreas e sua eficiência para inteligência mais do que tamanho.

O cérebro não sente dor

Verdade! A dor é sentida através de fibras nervosas sensoriais chamadas nociceptores. Curiosamente, o cérebro pode perceber sinais de dor de nociceptores enviados de todo o corpo, mas como o cérebro em si não tem, não sente dor. Se alguém cutucasse o seu tecido cerebral, você não sentiria isso!

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Você usa apenas 10% de seu cérebro

Mito! O mito de 10% de uso do cérebro remonta quase um século. Em 2013, 65% dos os americanos acreditaram nesse mito. Na realidade, a menos que haja dano cerebral, a maioria das áreas do cérebro estão ativos o tempo todo, em algum grau.

Algumas pessoas podem sentir gosto de formas e cores

Verdade! O fenômeno, conhecido como cinestesia, vem de uma palavra grega que significa “perceber junto.” Pessoas com essa habilidade podem ouvir, cheirar, provar ou sentir dor em cores. Outros podem provar formas ou experimentar cores ou sensações táteis enquanto ouvem música.

O cérebro consegue ser bom em multitarefas

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Mito! Multitarefa em termos de tarefas voluntárias que requerem atenção, o cérebro não é um bom multitarefa. Enquanto tarefas involuntárias, como regular o sangue pressão e respiração podem ser feitas simultaneamente, o cérebro não pode atender dois ou mais estímulos em atenção ao mesmo tempo. Em vez disso, o cérebro rapidamente alterna entre as tarefas.

A aprendizagem ocorre quando novas células são adicionadas ao cérebro

Mito! Novas células podem, de fato, ser adicionadas ao cérebro. No entanto, aprender não requer adição de novas células cerebrais. Aprendizado ocorre como as conexões entre o cérebro células mudam. Quando você aprende uma nova habilidade, como uma língua ou um esporte, as células do seu cérebro disparam juntos e criam associações.

O cérebro é o órgão mais gorduroso do o corpo

Verdade! No geral, o cérebro é 75-80% de água. Os outros 20-25% do cérebro é composto por tecido sólido e um mínimo de 60% de gordura.

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Você possui uma dominância do lado esquerdo ou direito do cérebro. Isso vai determinar se você é mais criativo ou mais lógico

Mito! Ao contrário da crença popular e de centenas de memes e imagens que perpetuam este mito, os humanos não podem ser categorizados com cérebro esquerdo ou direito. Os talentos como criatividade, processamento de linguagem, habilidade espacial e lógica, requerem um trabalho em equipe integrado de ambos os hemisférios.

Cérebros de meninos e meninas são anatomicamente iguais

Verdade! Não existem diferenças anatômicas entre cérebros de sexos diferentes. As diferenças serão moldadas a partir dos aprendizados e incentivos que as crianças recebem.

Os humanos têm o maior cérebro de todos os mamíferos

Mito! Cachalotes seguram o troféu para o maior cérebro de qualquer espécie viva! Embora os cérebros dos cachalotes sejam cinco vezes maiores que os cérebro humano, humanos ainda detêm o recorde de espécie com o maior cérebro em relação ao tamanho do corpo, também conhecido como “quociente de encefalização”.

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Se entender mais sobre o cérebro pode ser complexo a especialista da a fica que envolve três palavras-chave: novidade, variedade e grau de desafio crescente “A prática de ginástica para o cérebro, sem dúvida além de outros recursos que proporcionam uma atividade constante e desafiadora para o cérebro são fundamentais. Você pode ainda estudar mais, se aperfeiçoar em algo no seu trabalho ou aprender um hobby novo: existem diversas possibilidades para manter o seu cérebro ativo e, consequentemente, mais inteligente”, concluiu Livia Ciacci, neurocientista do SUPERA – Ginástica para o cérebro. 

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Estudo revela novo mecanismo de ação dos corticoides no combate à inflamação causada pela COVID-19

Julia Moióli | Agência FAPESP – Desde o início da pandemia de COVID-19, os corticoides, também conhecidos como glicocorticoides (GCs), têm se estabelecido como uma das principais opções de tratamento – especialmente em casos graves – por sua ação anti-inflamatória e imunossupressora. Agora, pesquisadores brasileiros acabam de descobrir novos mecanismos de ação desses fármacos no controle da resposta inflamatória do organismo durante a infecção: eles aumentam os níveis de endocanabinoides (eCB), moléculas produzidas pelo próprio organismo que se ligam ao mesmo receptor do canabidiol, e diminuem a concentração no plasma de um mediador lipídico conhecido como PAF (sigla em inglês para fator de ativação de plaquetas), que regula a coagulação. Os resultados do estudo foram publicados na revista Viruses.

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“Como os endocanabinoides têm funções neurológicas e anti-inflamatórias, nossa ideia era investigar se pacientes com sintomas leves de COVID-19 apresentavam maior proteção graças à produção natural dessas moléculas e se nos casos graves os níveis eram menores, causando inflamação exacerbada e, consequentemente, internações em UTI [Unidade de Terapia Intensiva]”, explica Carlos Arterio Sorgi, professor do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP) e coordenador do trabalho.

Outro objetivo do estudo, que contou com apoio da FAPESP (projetos 22/07287-2 e 21/04590-3), era saber se o PAF era mais presente nas manifestações mais sérias de COVID-19, estimulando a coagulação sanguínea e a formação de microtrombos. Para essa análise, o grupo usou a infraestrutura do Centro de Excelência de Quantificação e Identificação de Lipídios (CEQIL) da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP), adquirida com apoio da Fundação no âmbito do programa Equipamentos Multiusuários (EMU).

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Por meio de espectrometria de massa de alta resolução, no entanto, os pesquisadores observaram o oposto do esperado: os pacientes graves apresentavam níveis de endocanabinoides aumentados e de PAF reduzidos no plasma sanguíneo.

Para entender essas descobertas, foi necessário analisar detalhadamente cada dado de um grande grupo de pacientes com sintomas leves e graves, em tratamento domiciliar, na enfermaria ou em UTI, bem como todos os seus parâmetros clínicos e manejos farmacológicos. Em seguida, foram aplicados a essas informações testes estatísticos multivariados.

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“Entendemos, então, que não era a doença a responsável por aumentar os endocanabinoides e diminuir o PAF, mas, sim, o tratamento com os corticoides”, diz Sorgi. “Embora o mecanismo clássico da farmacologia dessa classe de medicamentos já fosse amplamente conhecido, seus efeitos nessas biomoléculas nunca haviam sido demonstrados na literatura.”

A análise do transcriptoma de leucócitos sanguíneos (conjunto de RNAs expressos por essas células de defesa) dos pacientes tratados com corticoides também mostrou expressão gênica diferenciada de monoacilglicerol lipase e fosfolipase A2, revelando que os corticoides podem alterar a atividade de enzimas envolvidas no metabolismo dos mediadores lipídicos analisados.

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Novos tratamentos

Os achados abrem possibilidades futuras de tratamentos à base de corticoides não só para COVID-19 como para outras doenças inflamatórias e neurológicas graves. Também indicam que os canabinoides – naturais ou artificiais – possivelmente podem funcionar como uma terapia coadjuvante. “Unir os efeitos dos dois compostos criaria o melhor cenário possível”, acredita Sorgi.

As próximas rodadas de estudos devem envolver pacientes com outras doenças virais, como a gripe, para analisar se nesses casos a produção de tais biomoléculas lipídicas também é alterada pela ação dos corticoides. Além disso, será investigado se o organismo mantém a mesma capacidade de produção de endocanabinoides após a vacinação contra a COVID-19 e na convalescença da doença.

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“Temos interesse ainda em fazer associações com grupos que trabalhem com canabidiol para testes em modelos experimentais animais, já que agora estamos em uma fase diferente da COVID-19”, diz Sorgi.

O trabalho faz parte do consórcio ImunoCovid, que envolve, além do departamento de Química da FFCLRP-USP, os departamentos de Análises Clínicas, Toxicológicas e Bromatológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP), de Bioquímica e Imunologia, de Cirurgia e Anatomia e de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP-USP).

Também participaram cientistas do Departamento de Genética e Evolução do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de São Carlos (CCBS-UFSCar), do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto e do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Amazonas (ICB-UFAM). A primeira autoria é dividida por um bolsista FAPESP de Iniciação Científica, Jonatan Constança Silva de Carvalho, uma aluna de doutorado, Diana Mota Toro, e os doutores Pedro Vieira da Silva-Neto, Carlos Alessandro Fuzo e Viviani Nardini, da USP de Ribeirão Preto.

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O artigo The Interplay among Glucocorticoid Therapy, Platelet-Activating Factor and Endocannabinoid Release Influences the Inflammatory Response to COVID-19 pode ser lido em: www.mdpi.com/1999-4915/15/2/573.

Vacinação contra hepatite B em bebês tem queda histórica

Progressão da doença tem consequências mais graves em crianças do que em adultos e especialista destaca a importância da imunização

Os índices de vacinação contra a hepatite B no Brasil nunca estiveram em patamares tão baixos: o percentual de bebês vacinados caiu de 86% em 2018 para 75,2% em 2022 — os dados preliminares foram divulgados pelo site do Ministério da Saúde, a partir de estudo realizado pelo Observa Infância da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A progressão da doença tem consequências mais graves em crianças do que em adultos e especialistas destacam a importância da imunização.

Como explica a pediatra e professora do curso de Medicina da Faculdade Pitágoras, Polyana Santos, o sistema imunológico durante a infância ainda está em desenvolvimento e a contaminação pelo vírus da hepatite B (VHB) pode ocasionar em doença crônica. “A aplicação da primeira dose de vacina é recomendada nas primeiras 24 horas após o nascimento, tendo em vista que a transmissão pode acontecer da mãe para o feto com a gravidez, durante e após o parto e que pode ocorrer a evolução da doença, após esse período depois de nascer”, afirma a médica.

O VHB está presente no sangue e em outros líquidos corporais, como a saliva, o sêmen e secreções vaginais da pessoa infectada. Outras formas de contaminação podem ocorrem por meio do contato com pequenos ferimentos na pele e nas mucosas, transfusões sanguíneas e pelo uso de drogas injetáveis ou material contaminado (como alicates, por exemplo).

A hepatite B ataca, preferencialmente, as células do fígado (hepatócitos) e causam um processo inflamatório que provoca dores abdominais, náuseas, vômitos, febre, cansaço, tontura e icterícia (cor amarelada na pele e conjuntivas). Em quadros crônicos, a doença pode provocar cirrose hepática e câncer. O diagnóstico é realizado por meio de exame de sangue, além de testes rápidos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Para a imunização, é necessária a vacinação logo nas primeiras 24 horas de vida, com mais três doses de reforço (uma aos 2 meses de idade e as outras aos 4 e 6 meses). Pessoas adultas que não foram vacinaram quando crianças podem procurar pelo serviço do SUS para serem imunizadas em um esquema de três doses — indivíduos que convivem com o HIV e imunodeprimidos precisam seguir um esquema especial, com doses reforçadas periodicamente.

Estudo do CNPEM revela como bactéria-chave da microbiota intestinal metaboliza carboidratos complexos

Em recém-nascidos, a Bifidobacterium longum é essencial para a digestão do leite; nos adultos, ajuda a transformar moléculas complexas formadas por carboidratos e proteínas em fontes acessíveis de energia, como a glicose. As estratégias moleculares usadas nesses processos foram descritas na Nature Chemical Biology e podem inspirar o desenvolvimento de produtos alimentícios para humanos e animais

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – No intestino de bebês recém-nascidos, uma bactéria conhecida como Bifidobacterium longum tem o papel fundamental de quebrar os carboidratos do leite e auxiliar na digestão da única fonte de alimento dos pequenos. Outra importante função da espécie é inibir a proliferação de microrganismos causadores de doenças, ajudando a equilibrar a microbiota intestinal.

Mesmo depois que o bebê cresce e passa a ter uma alimentação variada, essa bactéria probiótica persiste no intestino – agora com a função de metabolizar carboidratos associados a proteínas, moléculas conhecidas como N-glicanos.

Cientistas do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) descobriram que a persistência da B. longum no intestino adulto está justamente ligada ao fato de ela conseguir quebrar os N-glicanos – uma fonte de carbono perene nesse ambiente. Uma vez despolimerizados, esses carboidratos originam uma grande quantidade de monossacarídeos, ou seja, carboidratos simples, como glicose e manose, por exemplo.

No trabalho, apoiado pela FAPESP e divulgado na revista Nature Chemical Biology, os pesquisadores descrevem, pela primeira vez, o mecanismo molecular com que as bactérias degradam e metabolizam essas fontes de carbono. O achado abre caminho para o desenvolvimento de novos componentes para produtos alimentícios, rações para animais e produtos probióticos capazes de melhorar o funcionamento do intestino humano e de outros mamíferos.

“Descobrimos que, além de quebrar os carboidratos do leite, essas bactérias conseguem se manter em um ambiente tão competitivo como a microbiota intestinal por terem uma adaptação que as permite clivar e metabolizar os açúcares dos N-glicanos, que vêm das N-glicosilações de proteínas [adição de açúcar a proteínas] provenientes da alimentação ou do próprio trato intestinal. Vale ressaltar que os N-glicanos são oligossacarídeos química e estruturalmente complexos e nem todas as bactérias que habitam o trato intestinal conseguem clivá-los”, diz Mario Murakami, diretor científico do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR-CNPEM).

Para elucidar todas as estratégias moleculares empregadas pela bactéria para a sobrevivência na microbiota, desde a fase neonatal até a vida adulta, os pesquisadores combinaram análises bioquímicas, mutação sítio-dirigida, espectrometria de massas, criomicroscopia eletrônica de alta resolução (crio-EM) e simulações de dinâmica molecular.

Colaboraram pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Emory University (Estados Unidos), da Maryland University (Estados Unidos) e do Biocruces Bizkaia Health Research Institute (Espanha).

Para a vida toda

Os autores descobriram que, além das bactérias B. longum possuírem genes que permitem utilizar os carboidratos do leite, elas também apresentam sistemas enzimáticos para a degradação de outros tipos de carboidratos. Murakami explica, que dada a complexidade dos N-glicanos, a bactéria precisa de um conjunto diverso de enzimas, com diferentes modos de ação e mecanismos de reconhecimento do substrato [molécula-alvo de uma enzima], para quebrar todas as ligações químicas presentes nesses carboidratos, além de requerer diversas enzimas para metabolizar os açúcares gerados pela degradação dos N-glicanos.

“A estrutura dos N-glicanos lembra a dos galhos das árvores. Esses galhos são compostos por distintos monossacarídeos, como manose, glicose e N-acetilglicosamina, e estão conectados por pelo menos cinco diferentes ligações químicas, gerando uma complexidade estrutural e química recalcitrante para degradação bioquímica. A partir desse estudo, conseguimos entender em nível molecular e atômico como o sistema enzimático constituído por nove enzimas de B. longum age de forma cooperativa para a desconstrução desses carboidratos complexos”, conta Murakami à Agência FAPESP.

Um aspecto interessante do trabalho foi que, ao desvendar o processo usado por essas bactérias probióticas para a clivagem de oligossacarídeos complexos, os pesquisadores descobriram também uma série de características inusitadas da B. longum.

Um exemplo é o processo metabólico raro usado por essas bactérias para metabolizar a manose. “Primeiro é isomerizada [transformação que mantém a fórmula molecular, mas altera as propriedades físicas e químicas] em frutose para depois ser fosforilada [adição de um grupo fosfato na molécula]. Porém, na grande maioria das bactérias que metabolizam a manose, ela primeiro é fosforilada e depois isomerizada. A B. longum atua por uma rota metabólica invertida em relação à usual”, explica Murakami.

Outro achado está no sofisticado mecanismo de cooperação de quatro enzimas que atuam na clivagem das ramificações de manose. Os pesquisadores verificaram que uma enzima sozinha – uma α-mannosidase da família GH38 (Bl_Man38B) – tem modo de ação generalista atípico e consegue desconstruir o N-glicano por inteiro.

Apesar da enzima Bl_Man38B ser capaz de atuar em todas as ramificações dos N-glicanos, ela ainda pode ser potencializada pela ação de uma outra enzima (α-mannosidase da família GH125), altamente específica para ligações do tipo α-1,6, acelerando o processo de degradação dos N-glicanos, que pode ser ativado em condições de estresse ou escassez nutricional.

Além disso, o mesmo processo de degradação pode ser feito pela ação cooperativa de outras duas enzimas (α-mannosidases da família GH38, Bl_Man38A e Bl_Man38B), que atuam de forma complementar sobre as distintas ligações do tipo α-1,2, α-1,3 e α-1,6. Murakami ressalta que a atuação das enzimas tem como destaque uma redundância funcional inédita para esse sistema em bactérias.

“Aprendemos com o estudo de outros filos bacterianos que geralmente as enzimas atuam de forma complementar, cada uma sendo responsável por uma etapa específica e sequencial do processo de clivagem e metabolismo. Mas observamos um mecanismo mais complexo em bifidobactérias envolvendo enzimas altamente específicas associadas com outras generalistas, o que gera um arsenal bioquímico singular e redundante para garantir a completa degradação de N-glicanos”, comenta o pesquisador.

Segundo Murakami, a B. longum apresenta um gene que codifica a enzima α-glicosidase, que permite a remoção de monoglicosilações na extremidade das antenas dos N-glicanos. Isso possibilita à bactéria também utilizar os N-glicanos não maduros. “Essa monoglicosilação bloqueia toda a desconstrução do N-glicano. As bactérias que não têm essas enzimas não conseguem utilizar os N-glicanos não maduros como fonte de carbono. Portanto, ter esse sistema enzimático versátil confere uma vantagem bioquímica à B. longum para ampliar seu espectro de atuação sobre todas as formas variantes dos N-glicanos ricos em manose”, explica.

O artigo Mechanism of high-mannose N-glycan breakdown and metabolism by Bifidobacterium longum pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41589-022-01202-4.

A pesquisa do CNPEM foi objeto de uma resenha crítica publicada pela professora da Universidade de Birmingham (Reino Unido) Lucy Crouch na mesma edição da revista Nature Chemical Biology. Esse texto pode ser conferido em: www.nature.com/articles/s41589-022-01199-w.

Pesquisa brasileira mostra mecanismo genético envolvido na forma mais grave de epilepsia

Luciana Constantino | Agência FAPESP – Cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) deram um importante passo para aprofundar o entendimento de um dos tipos de epilepsia, a do lobo temporal mesial (ELTM), considerada a mais comum e refratária ao tratamento farmacológico. Em estudo recentemente publicado, o grupo mostrou que, apesar das semelhanças fenotípicas (características observáveis da doença), há diferenças no processo de decodificação da informação genética (perfil de expressão gênica) entre os pacientes com a variante familiar e a esporádica.

O trabalho avaliou, pela primeira vez, o perfil do RNA mensageiro (mRNA, molécula que contém a informação para a produção de proteínas) de tecido cirúrgico obtido de pacientes com a ELTM familiar e comparou com a ELTM esporádica. A partir da descoberta, o grupo vem procurando compostos e substâncias que poderão ser candidatos a novas alternativas de tratamento. Outro passo já em andamento é a busca por eventuais mutações genéticas que podem levar à doença.

Desenvolvida por integrantes do Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia (BRAINN), a pesquisa é destaque em edição especial da revista científica Society for Experimental Biology and Medicine (SEBM). A edição temática é dedicada às contribuições de mulheres líderes em ciências biomédicas de vários países, incluindo o Brasil, com o objetivo de reconhecer o papel fundamental delas em esferas da academia e para que possam inspirar a próxima geração de cientistas.

“Essa edição especial é uma homenagem às mulheres cientistas consideradas líderes, que incluem e incentivam suas orientandas em mentorias e entre os autores dos trabalhos. Acho extremamente gratificante poder formar alunos e vê-los se colocando, mas fico particularmente feliz de formar mulheres pesquisadoras, que também já estão ocupando posições de liderança”, diz à Agência FAPESP a neurocientista e autora correspondente do artigo Iscia Lopes-Cendes. Ela é professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e integrante do BRAINN, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.

Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que no mundo, apesar de as mulheres representarem um terço dos pesquisadores, são menos de 12% dos membros de academias de ciências nacionais. Pelas estimativas da ONU, as pesquisadoras tendem a ter carreiras mais curtas e menos remuneradas, tendo o trabalho sub-representado em publicações de alto nível. No caso das engenharias, por exemplo, elas são 28% dos formandos.

“Ainda enfrentamos muitas dificuldades e obstáculos. As mulheres conseguem chegar longe, em posições de destaque que almejam, mas sua performance e dedicação têm de estar acima daquilo que um homem precisaria para a mesma posição. Nós ainda sofremos essa invisibilidade, fazendo até mesmo sacrifícios individuais para sermos reconhecidas”, completa Lopes-Cendes.

As três primeiras autoras do artigo, que em algum momento foram orientandas de Lopes-Cendes, vêm ocupando cargos de liderança. É o caso da professora Claudia Maurer-Morelli, que é coordenadora da Comissão Geral de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas; da pesquisadora e professora Jaíra Ferreira de Vasconcellos, líder de grupo de pesquisa na Universidade James Madison, na Virgínia (Estados Unidos); e da pesquisadora Estela Maria Bruxel, pós-doutoranda na Unicamp, que está em período no exterior.

As descobertas

Os resultados da pesquisa apontam que, apesar das semelhanças fenotípicas, as duas formas de epilepsia do lobo temporal mesial apresentam assinaturas moleculares distintas, sugerindo diferentes mecanismos moleculares.

No tecido de pacientes com ELTM familiar, os cientistas encontraram uma super-representação das vias biológicas relacionadas à resposta proteica, processamento de mRNA, plasticidade (capacidade do cérebro de se adaptar às mudanças no ambiente) e função sináptica.

Já em ELTM esporádica, o perfil de expressão gênica do hipocampo – importante área do cérebro ligada ao aprendizado e à memória – sugere que a resposta inflamatória é altamente ativada. Nesse caso, foram registradas síntese e regulação de prostaglandinas (compostos lipídicos com efeitos semelhantes aos dos hormônios) e vias de fagocitose de patógenos microgliais (um tipo de célula do sistema nervoso central que desempenha várias funções).

Em ambos os grupos, foram encontrados enriquecimento de conjuntos de genes envolvidos em citocinas (moléculas que fazem a “comunicação” entre as células do sistema imune) e mediadores inflamatórios, além de vias de receptores de quimiocinas (um tipo de citocina que controla a movimentação das células de defesa).

“Utilizamos assinatura da expressão gênica em larga escala para caracterizar o mecanismo da doença. Com essas técnicas de alto desempenho é possível obter um mapa das vias moleculares presentes, sejam elas ativadas ou inibidas. Identificamos que as vias mais ativadas são diferentes. Já tínhamos a hipótese de que na ELTM esporádica a via mais ativada era da inflamação e constatamos agora. A diferença do nosso estudo foi trabalhar com tecido de pacientes com a forma familiar submetidos à cirurgia”, explica Lopes-Cendes.

As epilepsias formam um conjunto de síndromes neurológicas crônicas caracterizadas por crises epilépticas espontâneas causadas por descargas neuronais anormais. Das síndromes epilépticas em adultos, a epilepsia do lobo temporal mesial afeta entre 30% e 40% desses pacientes, que não apresentam resposta satisfatória aos medicamentos existentes e muitas vezes precisam ser submetidos à cirurgia.

Na maioria dos pacientes com ELTM é encontrada uma lesão característica que envolve o hipocampo, a chamada esclerose mesial temporal (EMT), caracterizada por extensa morte neuronal levando à atrofia hipocampal.

Nos anos 2000, o grupo de Lopes-Cendes, incluindo o professor Fernando Cendes, coordenador do BRAINN, identificou e descreveu a epilepsia de lobo temporal mesial familiar com base em estudos genéticos desenvolvidos na época e questionários envolvendo informações sobre as famílias dos pacientes.

“Trabalho com mulheres que servem de inspiração para continuar desenvolvendo pesquisa de qualidade e que visa, quem sabe um dia, encontrar soluções que levarão bem-estar aos pacientes que sofrem de epilepsia”, diz Bruxel.

O estudo recebeu apoio da FAPESP por meio de outros cinco projetos (05/56578-408/54789-610/17440-518/03254-7; e 19/25948-3).

O artigo Gene expression profile suggests different mechanisms underlying sporadic and familial mesial temporal lobe epilepsy pode ser lido em: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/15353702221126666?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed.

Apesar de proibido, nove em cada dez menores conseguem comprar cigarro

Nove em cada dez adolescentes que tentam comprar cigarros não são impedidos atualmente no Brasil. Além disso, a grande maioria (cerca de 70%) desses jovens faz isto com frequência e em estabelecimentos comerciais autorizados. É o que aponta estudo de pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (INCA), publicado na sexta-feira (3) na revista “Cadernos de Saúde Pública”.

Ao comparar dados das últimas duas edições da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar – de 2015 e 2019 – os resultados também mostram que a proporção da falta de cumprimento da lei que proíbe a venda de cigarros para menores de idade se manteve igual nos últimos anos, estagnada em um patamar bastante elevado.

Há também indícios de uma “dupla ilegalidade”: na maioria das vezes, as compras são realizadas em estabelecimentos comerciais autorizados (como bancas de jornal, cafés, mercados, padarias, banca de jornal ao invés de em comércio ambulante) e envolvem a venda de cigarros avulsos (ao invés de maços) – que por si só também é proibido, independentemente da idade do consumidor.

“Esse ciclo de retroalimentação da ilegalidade aponta para a baixa efetividade de determinadas leis de combate ao tabagismo, o que contribui para o enfraquecimento da política nacional de controle do tabaco”, ressalta o doutor em Saúde Pública André Szklo, autor do estudo ao lado da estatística e doutora em Epidemiologia, Neilane Bertoni. André Szklo lamenta que o cigarro no Brasil seja o segundo mais barato da região das Américas, atrás somente do Paraguai o que, somado ao fato de que os produtos recebem aditivos de sabor e aroma, “faz com que o produto se torne ainda mais atraente para o jovem buscar adquiri-lo”, reforça.

Estudos como esse, afirmam os autores, estão entre aqueles que compõem o sistema de monitoramento da epidemia do tabagismo no Brasil e que servem para auxiliar na efetiva implementação da Política Nacional de Controle ao Tabaco. A preocupação, além do sofrimento causado pelas mortes diárias de 443 pessoas por causa do tabagismo e da saúde de jovens que se iniciam e desenvolvem dependência do tabaco, é também com os custos decorrentes dessa epidemia: “O tabagismo acarreta um custo econômico e social com sistema de saúde, perda de produtividade e cuidados com familiares, de 125 bilhões de reais por ano”, quantifica Szklo.

“Então, além da perda das pessoas, do sofrimento causado e da dependência, isso significa um custo para o país muito superior ao quanto se arrecada com impostos – o imposto só cobre 10% desse gasto. Na verdade, a indústria não está cobrindo os gastos para a sociedade e esse é um dinheiro que poderia estar sendo investido em educação e saúde, por exemplo. Considerando, ainda, que aproximadamente 2 em cada 3 usuários de produtos derivados do tabaco virão a falecer no país em decorrência desse comportamento, a reposição desses usuários pela futura geração de jovens e adolescentes brasileiros levanta uma enorme preocupação. É nisso que esse artigo acaba chegando”, conclui o autor.

Início de aplicação de vacina bivalente marca retomada da imunização no Brasil

Nova vacina, que melhora a imunidade contra o vírus da cepa original e da variante Ômicron, será destinada primeiramente aos chamados grupos de risco.

Nesta segunda, 27, o Brasil iniciou uma nova fase da vacinação contra a Covid-19, com a aplicação da vacina bivalente. De acordo com o Ministério da Saúde, trata-se de uma vacina que melhor a imunidade contra o vírus da cepa original, assim como contra a variante Ômicron, que se disseminou amplamente no país. 

Primeiramente, a proteção com esse imunizante será dada aos integrantes do chamado grupo de risco, ou seja, pessoas acima de 70 anos, pessoas imunocomprometidas, funcionários e pessoas que vivem em instituições permanentes, indígenas, ribeirinhos e quilombolas. Cerca de 18 milhões de brasileiros fazem parte desse grupo.

O início dessa nova fase de vacinação foi marcado por uma solenidade especial, em que o vice-presidente da República Geraldo Alckmin, que é médico, aplicou a vacina no braço do presidente Lula. Presente no evento, Soraya Smaili, coordenadora do SoU_Ciência, destacou a importância do simbolismo do momento, “que representa a retomada da imunização no país”.

“O governo anterior realizou um enorme desserviço para a população, ao disseminar uma série de notícias falsas relacionadas aos imunizantes e que levaram medo e insegurança aos brasileiros e brasileiras. A consequência foi a diminuição da vacinação, não só contra a Covid-19, como também de outras vacinas tão essenciais para a saúde e proteção contra várias doenças. Nesse sentido, foi muito emblemático o presidente Lula encabeçar a proteção com a dose de vacina bivalente, mostrando para todas e todos o caminho correto da preservação da saúde”, ressalta Soraya.

Agora que a bivalente entrou no calendário da vacinação, Soraya acredita ser de fundamental importância a realização de grandes campanhas de incentivo. “É preciso que o estímulo seja tratado como política pública, trabalhando junto à sociedade todas as informações de proteção e segurança já evidenciadas pela ciência. Precisamos voltar a ser o país exemplo mundial que por muito tempo fomos quando o assunto é vacinação”, conclui.

“Virose da mosca”: o que é, como evitar e tratar?

Conheça a Doença Diarreica Aguda, enfermidade que ataca o trato gastrointestinal e pode gerar desidratação 

Xô, mosca! Ao ouvir o termo popular “Virose da Mosca”, você pode até achar que se trata de uma nova doença – mas, não. Estamos falando, na verdade, da Doença Diarreica Aguda (DDA), enfermidade que afeta diretamente o trato gastrointestinal. Essa doença é bastante comum no período de chuvas, em que o fluxo de insetos e, por consequência, o transporte de microrganismos aumenta nos ambientes.

Por mais que o nome da doença faça da mosca a grande vilã, os insetos não são a única via de contaminação, A virose pode ser adquirida através do contato com água ou solo contaminados. As mãos são a principal via de entrada dos microorganismos causadores da Doença Diarreica Aguda.

Quais os sintomas?

A médica infectologista e professora do Instituto de Educação Médica (IDOMED), Silvia Fonseca, comenta que os principais sintomas da doença são vômitos, diarréias, febre e, nos casos mais graves, desidratação.

A especialista ressalta, ainda, que as crianças são especialmente suscetíveis às formas graves da enfermidade. Ela ensina a identificar os sinais de desidratação. “A criança costuma ficar mais irritada, o olho fica fundo, a boca seca e diminui a quantidade de diurese”. Pele seca, tontura e dor de cabeça são outros sinais de atenção.

Caso seja identificada a desidratação gerada pela DDA, a professora do IDOMED indica aumentar a ingestão de água e consumir também o soro caseiro. Além disso, é importante levar o paciente ao pronto atendimento para o tratamento imediato desse quadro clínico.

Como prevenir?

Algumas medidas preventivas podem ser essenciais para evitar a doença. A infectologista alerta para o cuidado com a exposição das pessoas aos microrganismos danosos.

“Ingerir apenas água tratada; evitar contato com esgoto e cursos de água contaminados; proteger bem o lixo dos animais e insetos; lavar a mão com frequência, principalmente antes das refeições; cuidar da higiene no preparo das comidas e limpar a casa com frequência para afastar as moscas e baratas, são hábitos que te distanciam da doença”, enumera Silvia.