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A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo é uma instituição pública de fomento à pesquisa acadêmica ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do governo do estado de São Paulo

Em vez de fator de risco, estudo sugere que a asma protege contra o agravamento da COVID-19

Monica Tarantino | Agência FAPESP – Desde o início da pandemia, em 2020, especula-se que a asma poderia contribuir para o agravamento e a letalidade da COVID-19. Divulgados recentemente na revista Frontiers in Medicine, os resultados do maior estudo feito até agora com pacientes que foram hospitalizados no Sistema Único de Saúde (SUS) por causa dos sintomas clínicos mais graves da COVID-19 sugerem exatamente o contrário. Além de não piorar o quadro, a asma pode ter um papel protetor na infecção pelo SARS-CoV-2.

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“Apesar de desenvolverem mais sintomas clínicos, os pacientes com asma foram menos propensos a morrer da COVID-19 em comparação com indivíduos sem asma”, afirma um dos autores do trabalho, o biólogo e doutor em ciências da saúde Fernando Augusto Lima Marson, da Universidade São Francisco (USF), em Bragança Paulista (SP). Para chegar a essa conclusão, o grupo formado por cinco pesquisadores avaliou os registros clínicos e demográficos de 1.129.838 pacientes hospitalizados com COVID-19. Desse total, 43.245 (3,8%) eram pacientes com asma, uma prevalência baixa que já tinha sido apontada por estudos anteriores. Entre os doentes que precisaram de suporte ventilatório invasivo, por exemplo, 74,7% dos pacientes com asma morreram, enquanto o percentual de mortes entre os pacientes sem asma foi de 78%. No grupo que recebeu suporte ventilatório não invasivo, 20% dos pacientes com asma foram a óbito versus 23,5% entre os pacientes sem asma. Entre os que não precisaram de suporte ventilatório, 11,2% dos pacientes com asma morreram. Já o percentual de baixas dos pacientes sem asma na mesma situação foi de 15,8%. Todas as informações foram obtidas no banco de dados OpenDataSUS.

A hipótese dos pesquisadores é que as especificidades da resposta imune dada pelo organismo à asma criam um cenário desfavorável à escalada inflamatória associada à forma mais grave da COVID-19. A pessoa com asma apresenta uma baixa produção de citocinas inflamatórias, um grupo de proteínas que aumenta a capacidade do corpo de destruir células tumorais, vírus e bactérias (os interferons, por exemplo). Isso estimula uma resposta imune mediada por células de defesa (linfócitos) TCD4+Th2, em detrimento do subtipo Th1.

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“A predominância da resposta Th2 é benéfica porque pode regular e diminuir o impacto da fase tardia da hiperinflamação, que é um ponto crítico em infecções respiratórias graves”, explica Marson, que coordena o Laboratório de Biologia Celular e Molecular da USF. Ele também é responsável pelos trabalhos de conclusão de curso na USF, onde 100% dos alunos de pós-graduação são bolsistas integrais.

De acordo com a pesquisa, que recebeu financiamento da FAPESP, a asma causaria ainda outras dificuldades ao SARS-CoV-2. A inflamação crônica dos alvéolos pulmonares das pessoas com asma diminui a quantidade de receptores ACE-2 (em português ECA-2, enzima conversora de angiotensina 2), uma proteína encontrada na superfície de diversas células do corpo, inclusive nas do epitélio do sistema respiratório. Ela é usada pelo vírus da COVID-19 para penetrar no interior das células, onde se multiplica.

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“A menor produção de citocinas inflamatórias e a menor quantidade de receptores para o vírus resultam em menos chance de infecção grave”, afirma Marson. Quantidades maiores de eosinófilos [glóbulos brancos] presentes no sangue de pessoas com asma igualmente desfavoreceriam a COVID-19 grave. Para os pesquisadores, o impacto de todas essas circunstâncias ajuda a entender por que embora a asma afete 10% da população, apenas 3,8% dos pacientes diagnosticados com COVID-19 e tratados pelo SUS tinham a doença.

Mais pesquisas são necessárias

Na avaliação de Marson, o tamanho da amostra avaliada faz diferença e pode diluir alguns vieses. “Para se ter ideia, na mesma época em que o nosso estudo foi feito, um trabalho nos Estados Unidos que acompanhou entre 300 e 400 pacientes concluiu que a asma era um fator de risco”, conta.

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Ele afirma ainda que o estudo da USF pode conter alguns dados equivocados por causa da natureza das informações analisadas. “Nosso estudo se baseou em dados coletados por uma agência de governo. Ainda que tenhamos nos aproximado do cenário real do Brasil no que concerne à resposta da COVID-19 em relação à asma, com a inclusão de muitos pacientes, o banco de dados ainda possui limitações. Não há, por exemplo, a descrição de testes laboratoriais que poderiam confirmar o diagnóstico de asma”, diz Marson.

Nova análise e coleta de dados serão feitas pelo grupo da USF a partir deste mês, provavelmente com um universo de 4 milhões de pessoas hospitalizadas após a infecção pelo SARS-CoV-2. “Vamos trabalhar com um banco mais robusto e focar novamente no desfecho, mas também na influência da vacina contra o vírus”, adianta o pesquisador.

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O estudo publicado na revista Frontiers in Medicine provocou desdobramentos. Um grupo de cientistas de dados pretende verificar as taxas de incidência da COVID-19 em pessoas com asma em nove municípios da região onde está situada a USF, no interior paulista. De Portugal, veio o convite da Universidade de Lisboa para uma parceria destinada a verificar a incidência da infecção em pessoas com fibrose cística. “Essa doença provoca alterações fisiológicas parecidas com as da asma e muito muco no pulmão, o que poderia dificultar a entrada do vírus na célula”, observa Marson.

O artigo Profile of coronavirus disease enlightened asthma as a protective factor against death: An epidemiology study from Brazil during the pandemic pode ser acessado em: www.frontiersin.org/articles/10.3389/fmed.2022.953084/full.

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Abelhas nativas são mais sensíveis a agrotóxico que espécie usada em testes para aprovação de produtos

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – As abelhas nativas uruçu nordestina (Melipona scutellaris), jataí (Tetragonisca angustula) e mandaguari (Scaptotrigona postica) são mais sensíveis ao agrotóxico tiametoxam (TMX) do que a Apis mellifera – espécie com ferrão introduzida no país e adotada como modelo para testes toxicológicos para aprovação de defensivos agrícolas.

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Foi o que mostrou um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp). Ao avaliar, pela primeira vez, o impacto do TMX nas três espécies nativas e sem ferrão, o estudo oferece subsídios para a elaboração de políticas públicas voltadas à proteção de insetos polinizadores no Brasil. A redução das populações de abelhas, além de ser um problema ambiental grave, tem repercussões negativas na produtividade agrícola.

“O Brasil possui mais de 2 mil espécies de abelhas. Entre as sem ferrão são quase 500 espécies. É uma diversidade enorme. É claro que não dá para fazer teste toxicológico em todas elas e com todos os agrotóxicos, mas é preciso selecionar algumas espécies, além da Apis mellifera, para entender como é possível criar uma configuração melhor para a proteção desses insetos no país”, afirma Osmar Malaspina, professor do Instituto de Biociências da Unesp em Rio Claro e coordenador do Grupo de Pesquisa em Ecotoxicologia e Conservação de Abelhas (Leca) e do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento de Métodos para Testes de Toxicidade em Abelhas Nativas Brasileiras junto à Comissão Internacional para as Relações Planta-Polinizador (ICPPR, na sigla em inglês).

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O estudo, apoiado pela FAPESP e divulgado na revista Environmental Pollution, integra um projeto maior, cujo objetivo é ampliar o entendimento sobre o impacto do uso de agrotóxicos na população de abelhas nativas sem ferrão (também chamadas de abelhas indígenas) e embasar a criação de novos protocolos e leis relacionados ao uso de defensivos agrícolas no país.

Isso porque, atualmente, os ensaios toxicológicos que integram a avaliação de risco de agrotóxicos seguem as diretrizes estabelecidas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e praticamente se restringem à espécie A. mellifera como modelo biológico. No entanto, o debate sobre a necessidade de reavaliação do risco ambiental de agrotóxicos tem crescido nas últimas décadas, sobretudo em regiões tropicais e subtropicais, onde há maior diversidade de espécies de abelhas.

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“As abelhas sem ferrão são altamente afetadas por agrotóxicos, mas os testes costumam ser feitos apenas com a A. mellifera, que é uma espécie com ferrão que foi introduzida no Brasil. É uma espécie de origem europeia”, explica Roberta Cornélio Ferreira Nocelli, professora do Centro de Ciências Agrárias da UFSCar em Araras, coordenadora do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento de Métodos para Testes de Toxicidade em Abelhas Nativas Brasileiras junto à ICPPR.

No estudo recentemente publicado, os pesquisadores realizaram uma curva de sensibilidade para comparar o impacto do agrotóxico em diferentes cenários, além de avaliar a sensibilidade ao TMX por grama de abelha, já que o tamanho varia entre as espécies.

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“Os resultados mostraram que a A. mellifera é mais tolerante ao TMX que as três espécies de abelhas sem ferrão em todos os cenários que avaliamos. Como criamos uma curva de sensibilidade é possível analisar diferentes cenários também, pois levamos em consideração o peso da abelha e outros parâmetros relacionados ao consumo do agrotóxico. Isso porque existem algumas diferenças na toxicidade quando se leva em consideração só o consumo ou o consumo e o peso”, explica Ana Paula Salomé Lourencetti, primeira autora do artigo.

Dessa forma, em relação à concentração letal média determinada para as três espécies de abelhas sem ferrão, o TMX se mostrou mais nocivo para a uruçu, seguida por jataí, mandaguari e por último a A. mellifera. Já a análise da dose letal média e levando em consideração o peso das abelhas (dose por micrograma), M. scutellaris foi a mais sensível, seguida da S. posticaT. angustula e A. mellifera. Nas análises de dose letal média sem levar em consideração o peso das abelhas, a T. angustula foi a mais sensível, seguida da M. scutellarisS. postica e A. mellifera.

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“Os resultados do trabalho mostram que, para algumas espécies, a A. mellifera pode ser considerada um bom parâmetro, mas para outras, não. Portanto, é um indicativo de que precisamos avaliar com mais cuidado os testes de toxicidade que visam a liberação de agrotóxicos, pois eles não estão sendo 100% eficientes para proteger as abelhas nativas brasileiras”, afirma Nocelli.

Políticas públicas

Estudos anteriores já haviam demonstrado que a sensibilidade das abelhas aos pesticidas varia de acordo com tamanho, ciclos de vida, metabolismo, comportamentos, biologia e rotas de exposição. Por isso, ressaltam os pesquisadores, a extrapolação de dados de toxicidade referentes à A. mellifera para outras espécies de abelhas de comportamento social e solitário tem sido questionada há anos.

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Já em relação às abelhas sem ferrão, além dessas questões que conferem maior sensibilidade, o risco se dá por serem espécies abundantes em lavouras e extremamente expostas a pesticidas.

Por esses motivos, o grupo de pesquisadores está desenvolvendo um novo protocolo (em processo de padronização) para abelhas sem ferrão, em que constam possíveis modelos biológicos para o processo de avaliação de risco ambiental. O trabalho, coordenado pelos pesquisadores e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), tem o intuito de ampliar os testes toxicológicos em um maior número de espécies de abelhas para subsidiar a aprovação e a renovação de registro de defensivos agrícolas.

“O Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] tem um sistema de avaliação de risco que é único para abelhas na América Latina. Porém, ele é muito similar ao adotado na Europa e nos Estados Unidos para registro de agrotóxicos. Por isso, estamos fazendo um trabalho conjunto com órgãos ambientais para a criação de um protocolo que abranja testes de toxicidade em abelhas nativas sem ferrão. A política pública tem de estar baseada em um protocolo padronizado e isso nós não tínhamos ainda para as espécies nativas”, afirma Nocelli.

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A pesquisadora explica que, atualmente, além da A. mellifera, existe um protocolo para outras três espécies (Bombus terrestresOsmia cornuta e Osmia lignaria). “Porém, essas também são do hemisfério Norte. Das três espécies contempladas nos protocolos, nenhuma é nativa do Brasil. E um dos grandes questionamentos nossos é se esses testes realizados com a A. mellifera garantem a segurança para as nossas abelhas”, afirma.

A iniciativa de desenvolver novos protocolos que considerem espécies nativas é pioneira na América Latina. “Trata-se de um problema complexo e que precisa ser resolvido. Nesse caso o Brasil está na vanguarda. Até mesmo a legislação que exige o teste com a A. mellifera é a única na América do Sul. Só existe isso nos Estados Unidos e na Europa. Agora é preciso avançar nessa questão das abelhas nativas sem ferrão, até porque a maioria dessas espécies é nativa, não existe no hemisfério Norte. É um interesse nosso, pois elas são extremamente importantes em termos de polinização. Precisamos de legislação que as proteja”, ressalta Malaspina.

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O artigo Surrogate species in pesticide risk assessments: Toxicological data of three stingless bees species pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0269749122020577?via%3Dihub.

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Ingrediente natural potencializa efeito de filtro solar sem aumentar a concentração de ingredientes

Ricardo Muniz |Agência FAPESP – Artigo publicado na revista Cosmetics descreve trabalho que incorporou a protetores solares um ingrediente ativo antioxidante, o ácido rosmarínico, junto a dois tradicionais filtros ultravioleta, um contra a radiação UVB, o metoxicinamato de octila, e outro contra a UVA, a avobenzona.

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O grupo de pesquisa obteve aumento da eficácia do sistema fotoprotetor com a adição de somente 0,1% do ácido rosmarínico, uma concentração bem reduzida em comparação com as normalmente encontradas nos filtros ultravioleta tradicionais. O resultado melhorou o desempenho dos produtos sem a necessidade de aumentar as concentrações dos princípios ativos, reduzindo tanto a aplicação no corpo quanto o descarte de maiores proporções de substâncias químicas sintéticas no ambiente. Foi obtido um aumento superior a 41% do valor do fator de proteção solar (FPS: quanto maior, mais protegida está a pele da radiação solar) tanto in vitro quanto em seres humanos.

Outra vantagem foi que, ao adicionar à mistura dos filtros o ácido rosmarínico, as amostras adquiriram propriedades multifuncionais: o sistema passou a ter, além do desempenho fotoprotetor, atividade antioxidante para a pele, podendo agir como, por exemplo, um produto cosmético com ação antienvelhecimento.

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“O interesse do nosso grupo de pesquisa ao investigar sistemas fotoprotetores está em avaliar potenciais estratégias para melhorar o desempenho dos protetores solares, isto é, descobrir meios para aumentar a proteção da pele contra a radiação proveniente do sol e, ainda, melhorar o perfil de estabilidade do produto para que se mantenha por mais tempo íntegro, seguro e eficaz”, diz o farmacêutico e bioquímico André Rolim Baby, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP). “Também buscamos produtos ou sistemas com menor impacto ambiental, quando há a possibilidade de reduzir a concentração dos filtros tradicionais por meio da incorporação de ingredientes naturais que contribuem com melhorias na formulação, e temos um grande interesse em mapear outras propriedades cosméticas das moléculas fotoprotetoras, como, por exemplo, ação antirradicalar [contra radicais livres] e protetora de biomarcadores das camadas mais externas da pele.”

Composto multifuncional

A investigação foi parte de um projeto apoiado pela FAPESP, cujo objetivo foi mapear propriedades quimiopreventivas de filtros solares ultravioleta diversos.

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O ácido rosmarínico, uma substância polifenólica encontrada em plantas como alecrim e sálvia, tem diversos atributos biológicos, além do antioxidante: é antiviral, anti-inflamatório, imunomodulador, antibiótico e antineoplásico.

Em artigo de revisão publicado em 2022 na revista Nutrients intitulado Dietary Supplements and the Skin: Focus on Photoprotection and Antioxidant Activiy – A Review https://doi.org/10.3390/nu14061248, o grupo de pesquisa ressaltou o uso e os benefícios dessa substância como suplemento alimentar com impacto em variados aspectos cosméticos da pele, como aumento da firmeza cutânea e redução de rugas. “Em outra investigação, verificamos que o ácido rosmarínico tem potencial efeito no aumento da hidratação superficial da pele, resultado que reforça a necessidade de mais estudos sobre essa substância na área da cosmetologia”, complementa Baby.

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Nos ensaios in vitro, foi usado um equipamento exclusivo para o estabelecimento de parâmetros da proteção solar, chamado Labsphere UV2000S, adquirido com financiamento da FAPESP.

Além de Baby, o artigo é assinado por Maíra de Oliveira Bispo, Ana Lucia Morocho-Jácome, Renata Miliani Martinez, Claudinéia Aparecida Sales de Oliveira Pinto, Maria Valéria Robles Velasco (USP), Cassiano Carlos Escudeiro (Instituto de Pesquisa Clínica Integrada, laboratório privado sediado em Jundiaí, SP) e Catarina Rosado, da Escola de Ciências e Tecnologias da Saúde da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, Portugal.

O artigo Photoprotective Efficacy of the Association of Rosmarinic Acid 0.1% with Ethylhexyl Methoxycinnamate and Avobenzone pode ser lido em: www.mdpi.com/2079-9284/10/1/11.

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Sensor de baixo custo detecta Parkinson inicial em amostras biológicas

Julia Moióli | Agência FAPESP – Pesquisadores das universidades Estadual de Campinas (Unicamp) e Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolveram um sensor eletroquímico que detecta a doença de Parkinson em diferentes estágios. Manufaturado em impressora 3D comum, o dispositivo pode antecipar o diagnóstico, permitindo o tratamento precoce, e ainda funciona como modelo para a identificação de outras doenças, de acordo com artigo publicado na revista Sensors and Actuators B: Chemical.

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“O sensor indica rapidamente a concentração da proteína PARK7/DJ-1 no plasma sanguíneo humano e em fluido cerebrospinal sintético. A molécula está relacionada à doença de Parkinson em níveis abaixo de 40 microgramas por litro [40 μg/L]”, explica Cristiane Kalinke, pós-doutoranda no Instituto de Química da Unicamp (IQ-Unicamp), pesquisadora visitante na Universidade Metropolitana de Manchester (Reino Unido) e primeira autora do artigo. “Com a vantagem de poder ser impresso em diversos formatos e tamanhos, inclusive em miniatura, criando dispositivos realmente portáteis, que demandam uma quantidade muito pequena de amostra.”

Para construir o sensor, os pesquisadores utilizaram um filamento comercial composto basicamente por ácido polilático (polímero biodegradável conhecido pela sigla em inglês PLA) associado a um material condutor (grafeno) e outros aditivos. Três eletrodos foram impressos em plástico com tecnologia 3D e passaram por um tratamento químico que os tornou ainda mais condutores e estimulou em suas superfícies a formação de grupos funcionais (carboxílicos), que se ligam com anticorpos. O processo de ativação envolveu remover a superfície polimérica isolante dos eletrodos pela imersão em hidróxido de sódio (NaOH) e a aplicação de um potencial elétrico (positivo e negativo). Em seguida, é promovida a reação específica entre os anticorpos e a proteína PARK7/DJ-1 para fornecer o diagnóstico.

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Os passos seguintes do trabalho, que contaram com apoio da FAPESP (projetos 13/22127-217/21097-319/00473-2 e 21/07989-4), foram imobilizar anticorpos específicos para a PARK7/DJ-1 na superfície dos eletrodos e aplicar o sensor na detecção da proteína em três níveis de concentração: 30 μg/L, 40 μg/L e 100 μg/L. A concentração média em pacientes diagnosticados com Parkinson em diferentes estágios é de aproximadamente 30 ± 9 μg/L, conforme dados da literatura.

“Dificilmente um paciente vai a uma consulta médica em busca de um exame de rotina para detectar Parkinson em estágio inicial – quando há suspeita, provavelmente sintomas físicos e comportamentais já se manifestaram e a doença já está bem estabelecida”, afirma Juliano Alves Bonacin, professor do Departamento de Química Inorgânica do Instituto de Química da Unicamp (IQ-Unicamp) e supervisor do estudo. “Nossa ideia foi construir um dispositivo muito simples e muito barato que permitisse o monitoramento ao longo do tempo e acendesse um alerta para médicos e pacientes no caso de alterações nos níveis da PARK7/DJ-1, o que é especialmente útil se analisado em conjunto com outros biomarcadores.”

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Prova de conceito

Um legado importante do estudo é funcionar como prova de conceito ao demonstrar a versatilidade desse tipo de impressão como plataforma para a imobilização de biomoléculas.

“Conseguimos imprimir todos os componentes de uma célula eletroquímica em uma impressora 3D, usando apenas um polímero como material condutor”, afirma Kalinke. “Nesse trabalho específico os materiais eram comerciais, ou seja, foram adquiridos prontos, mas, aos poucos, estamos desenvolvendo novos filamentos para impressão 3D em nosso laboratório também.”

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Segundo os autores, a plataforma abre portas para o diagnóstico de outras doenças – no caso da proteína PARK7/DJ-1 especificamente, além de problemas neurológicos, há relação com diabetes tipo 2, infertilidade e alguns tipos de câncer. Mas o objetivo é expandir o uso para outros biomarcadores e, aliás, Kalinke já está trabalhando na fabricação de um sensor para o diagnóstico de febre amarela.

“Imagine que ocorra um surto de determinada doença em uma região específica”, exemplifica Bonacin. “Com poucas impressoras 3D e alguns eletrodos seria possível produzir um sensor como o nosso no local.”

O estudo também contou com a colaboração de Craig E. Banks, professor da Faculdade de Ciência e Engenharia da Universidade Metropolitana de Manchester, do professor Bruno Campos Janegitz e do pesquisador Paulo Roberto de Oliveira, ambos da UFSCar – Campus Araras.

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O artigo 3D-printed immunosensor for the diagnosis of Parkinson’s disease pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0925400523000680?via%3Dihub.

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Projeto de lei proporá crédito suplementar de R$ 4,2 bilhões para recompor FNDCT

Claudia Izique | Agência FAPESP – O governo federal enviará nos próximos dias ao Congresso Nacional projeto de lei propondo um crédito suplementar de R$ 4,2 bilhões ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), o que elevará o orçamento do Fundo dos atuais R$ 5,8 bilhões para algo em torno de R$ 10 bilhões em 2023, afirmou o secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luiz Manuel Rebelo Fernandes.

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O anúncio foi aplaudido por uma plateia formada por presidentes e dirigentes de Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) de todos os Estados brasileiros reunidos na cerimônia de abertura do Fórum Nacional do Conselho Nacional das FAPs (Confap), realizado na FAPESP entre quarta-feira (22/03) e ontem (24/03). Fernandes participou do encontro representando a ministra Luciana Santos, do MCTI.

Informou ainda que seu ministério sugerirá ao Conselho Diretor do FNDCT, entre outras medidas, focar a aplicação de recursos em projetos estratégicos mobilizadores e estruturantes, orientados por “missões” específicas e em áreas consideradas prioritárias, como o complexo industrial-tecnológico da saúde, transição energética, transição climática, transformação digital e complexo industrial de segurança e defesa.

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Fernandes agradeceu aos presidentes das FAPs e aos secretários estaduais de ciência e tecnologia por terem enfrentado o “colapso” do sistema federal de fomento à ciência, tecnologia e inovação (CT&I) do Brasil nos últimos anos, tanto do ponto de vista do orçamento quanto do financiamento. “Vocês foram pilares de resistência, garantindo a continuidade do sistema”, disse.

Vahan Agopyan, secretário de Ciência e Tecnologia, que no evento representou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, lembrou que, durante a pandemia, as agências estaduais de fomento se mostraram “imprescindíveis”. “Não existe desenvolvimento sem ciência, tecnologia e inovação, tem afirmado o governador do Estado de São Paulo. Para isso, é preciso fomento eficiente, contínuo e confiável. As agências federais são imprescindíveis para dar uma visão mais ampla de nossas atividades, mas as agências estaduais estão mais perto dos pesquisadores. Temos que lutar para que essa rede fique cada vez mais forte para que o pesquisador brasileiro possa trabalhar com mais confiança no futuro.”

Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, sublinhou o papel estratégico das FAPs na descentralização do sistema de CT&I no país, iniciado há seis décadas com a constituição da primeira Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo.

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“A história mostrou o sucesso desse modelo. Mas ainda há espaço para progredir nas relações institucionais das FAPs dentro das unidades da federação com o executivo, o legislativo, o setor produtivo e os tribunais de conta; na incorporação de parcerias com o setor produtivo e no fortalecimento da ciência e tecnologia desenvolvidas nas empresas e nas indústrias. Há ainda amplo espaço para o estreitamento de relações entre FAPs e o sistema nacional de C&T”, afirmou Zago.

O presidente da FAPESP defendeu uma revisão do modelo nacional de promoção de ciência e tecnologia de modo a incorporar também iniciativas regionais, estaduais e municipais, reduzindo a heterogeneidade interna. “A centralização não tem perspectivas de promover soluções permanentes num país imenso e diversificado como o Brasil.”

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O governo federal, propôs Zago, deve fazer aliança com as FAPs e com grupos de FAPs, a exemplo do que fez na implementação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs). Citou ainda o exemplo recente da Iniciativa Amazônia+10, que apoia 39 projetos de pesquisas implementados em parceria por pesquisadores de pelo menos três FAPs – uma delas de Estados amazônicos – visando a preservação e o desenvolvimento sustentável da região. “Essa iniciativa será ampliada por adesão e participação de órgãos federais”, afirmou. “A abordagem conjunta deve contribuir para aumentar a estabilidade do sistema, reverter o desinteresse crescente pela carreira científica e favorecer a fixação [dos pesquisadores] no país”, afirmou.

“A Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] está de volta ao Confap. E agradeço ao Confap por não ter desistido da Capes”, disse Mercedes Bustamante, presidente da entidade, durante o encontro. “Essa parceria é fundamental, deve ser fortalecida e revigorada. As assimetrias regionais exigem um olhar diferenciado para os territórios. Reverter o interesse pela carreira científica é fundamental para a Capes e as FAPs.”

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Para Ricardo Galvão, presidente do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CNPq), é necessário fortalecer a inovação tecnológica. “Ainda não sabemos suplantar o vale da morte. E precisamos colaborar fortemente com as FAPs para superar esse gap. A inovação, para ser implantada no país, não precisa só do CNPq, mas também de outras instituições, incluindo FAPS e parceiros internacionais. Sistemas sustentáveis são a pauta do momento. E as FAPs têm de se conscientizar disso.”

Pós-graduação

Odir Antonio Dellagostin, presidente do Confap, mostrou o impacto da pandemia na formação de recursos humanos e na produção científica do país. “A pós-graduação tem sido a responsável pelo avanço da ciência e da tecnologia no Brasil”, analisou. “Preocupa bastante o fato de ter havido queda de 20% no número de titulados como efeito da pandemia em 2020 e 2021. No início de 2023, olhando a produção científica nacional, houve queda de 8%. A produção científica é resiliente, mas nem tanto assim”, pontuou.

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Ele também detalhou a heterogeneidade do sistema de financiamento à CT&I no país. A produção científica do Estado de São Paulo representa 28,9% de todo o país, seguida pelo Rio de Janeiro (11,95%), Minas Gerais (10,6%), Rio Grande do Sul (8,4%) e Paraná (6,3%). Os demais Estados têm participação abaixo de 5%. Os que lideram esse ranking também concentram o maior número de doutorandos e de mestrandos no país.

Entre vários indicadores, os números dão conta de que o valor por pesquisador – considerando os estudantes e docentes de pós-graduação –diferem por região: variam de R$ 29,3 mil por ano no Espirito Santo a R$ 4,7 mil em Roraima.

Os avanços também são tímidos no que diz respeito à inovação. “Falamos em inovação há décadas. A primeira Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação foi em 2001”, lembrou Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, na época secretário-executivo do MCT. “E a gente não sai do lugar.”

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Esse baixo desempenho se deve à performance da economia, à queda acentuada do PIB e ao baixo investimento. Entre 2013 e 2021, os gastos federais com pesquisa e desenvolvimento caíram à metade, de R$ 30 bilhões para R$ 16 bilhões. “Inovação tem correlação com crescimento econômico, mas principalmente com o investimento que colapsou no país.” Para Pacheco, é preciso debater também o papel do setor privado. “Não dá para fazer P&D só com governo.”

Ele reconhece “um ativismo gigantesco” dos gestores para reverter esse quadro e que o país implementou, no período, uma agenda regulatória importante. Mas também alerta que é preciso olhar para as oportunidades que o mercado já parece reconhecer: houve crescimento no número de startups, em investimentos do tipo private equity e venture capital e aumentou o interesse dos fundos de investimentos de grandes empresas em iniciativas inovadoras.

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Apesar do cenário econômico desfavorável, o Brasil deveria buscar uma nova geração de políticas de inovação, buscando recuperar instrumentos de inovação e crédito e criando uma “agenda de atenção com a desintermediação de certas cadeias e insumos críticos, entre outras medidas”.

Nesse mesmo cenário, avaliou Pacheco, as FAPs deveriam investir na capacitação de recursos humanos, manejar um “mix” de incentivo à pesquisa inspirada pela curiosidade do pesquisador e pesquisa movida pelo uso, sendo parte dela voltada a missões claramente definidas. Também deveriam investir no fortalecimento dos ecossistemas de inovação, no realinhamento entre os Estados e a União e na restauração da colaboração.

Essas sugestões se alinham às práticas que têm sido adotadas por agências de fomento em todo o mundo, de acordo com Sérgio Salles Filho, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que analisou estratégias de diversas instituições. “Todas fazem planejamento estratégico, estabelecem conexão entre pesquisa e inovação, trabalham com boas práticas de fomento à pesquisa e fazem avaliação de impacto”, mencionou.

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O evento pode ser conferido na íntegra em: www.youtube.com/watch?v=L_9MXfHNLbU&t=8s.

Premiações

Durante o evento, foram anunciados os vencedores da 2ª edição do Prêmio Confap de Boas Práticas em Fomento à Ciência, Tecnologia & Inovação e da 2ª edição do Prêmio Confap de Ciência, Tecnologia e Inovação “Professora Odete Fátima Machado da Silveira”. Três indicados pela FAPESP estão entre os primeiros colocados: Helena Bonciani Nader, professora da Universidade Federal de São Paulo e presidente da Academia Brasileira de Ciências, na categoria “Pesquisador(a) Destaque – Ciências da Vida”; Edgar Dutra Zanotto, professor da Universidade Federal de São Carlos, na categoria “Pesquisador(a) Destaque – Ciências Exatas”; e Giovana Girardi, ex-repórter do Estadão e da Rádio Novelo, agora na Agência Pública, na categoria “Profissional de Comunicação”.

A relação completa dos premiados pode ser consultada no site do Confap.

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Adolescentes que usam celular ou tablet por mais de três horas ao dia sofrem mais com dor na coluna

Ricardo Muniz | Agência FAPESP – Com a popularização de dispositivos como celulares e tablets e a multiplicação de canais de vídeos, jogos e aplicativos educacionais, crianças e adolescentes têm passado cada vez mais tempo em frente de telas. E, nesses momentos, é comum adotarem posturas inadequadas, que podem causar, entre outros problemas, dores na coluna vertebral.

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Estudo financiado pela FAPESP e publicado na revista científica Healthcare identificou diversos fatores de risco para a saúde da coluna, como o uso de telas por mais de três horas ao dia, a pouca distância entre o equipamento eletrônico e os olhos, a utilização na posição deitada de prono (de barriga para baixo) e também na posição sentada. O foco do estudo foi a chamada dor no meio das costas (thoracic back pain, ou TSP). Foram avaliados 1.628 estudantes de ambos os sexos entre 14 e 18 anos de idade, matriculados no primeiro e no segundo ano do ensino médio, período diurno, na área urbana do município de Bauru (SP), que responderam a um questionário entre março e junho de 2017. Destes, 1.393 foram reavaliados em 2018. A pesquisa constatou que, de todos os participantes, a prevalência de um ano foi de 38,4%, o que significa que os adolescentes relataram TSP tanto em 2017 quanto em 2018. A incidência em um ano foi de 10,1%; ou seja, não notificaram TSP em 2017, mas foram encaminhados como casos novos de TSP em 2018. As dores na coluna ocorrem mais nas meninas do que nos meninos.

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Fatores de risco

TSP é comum em diferentes grupos etários na população mundial. Estima-se que afete de 15% a 35% dos adultos e de 13% a 35% de crianças e adolescentes. A pandemia de COVID-19 e a consequente explosão no uso de eletrônicos seguramente agravaram a incidência do problema. Fatores de risco físicos, fisiológicos, psicológicos e comportamentais ou uma combinação destes estão associados à TSP, de acordo com várias investigações. Há também fortes evidências dos efeitos da atividade física, comportamento sedentário e saúde mental na saúde da coluna vertebral. Todos esses fatores foram considerados críticos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em sua mais recente revisão global de evidências e diretrizes.

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“Esse trabalho pode ser utilizado para implementar programas de educação em saúde nos diversos níveis escolares, visando capacitar estudantes, professores, funcionários e pais”, diz Alberto de Vitta, doutor em educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com pós-doutorado em saúde pública pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu e um dos autores do artigo. “Isso vai ao encontro de alguns objetivos dos Parâmetros Curriculares Nacionais [PCN], segundo os quais a escola deve assumir a responsabilidade pela educação para a saúde, identificando fatores de risco à saúde pessoal e coletiva no meio em que vivem, intervindo de forma individual ou coletiva sobre os fatores desfavoráveis à saúde e promovendo a adoção de hábitos de autocuidado com respeito às possibilidades e limites do corpo”, complementa Vitta, que atualmente leciona e pesquisa no Departamento de Fisioterapia da Faculdade Eduvale de Avaré (SP) e no programa de pós-graduação em Educação, Conhecimento e Sociedade da Universidade do Vale do Sapucaí (Pouso Alegre, MG).

Informações sobre fatores de risco para TSP em estudantes do ensino médio são relevantes porque crianças e adolescentes com dor nas costas são mais inativos, apresentam baixo rendimento acadêmico e apresentam mais problemas psicossociais, aponta o artigo. Além disso, poucos estudos foram realizados em TSP em comparação com a dor lombar e cervical. Uma revisão sistemática de TSP identificou apenas dois estudos prospectivos sobre fatores prognósticos.

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Além de Vitta, assinam o artigo Matias Noll, Instituto Federal Goiano e da Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás, Manuel Monfort-Pañego e Vicente Miñana-Signes, da Universidade de Valência (Espanha), e Nicoly Machado Maciel, da Universidade de São Paulo.

O artigo Thoracic Spine Pain in High School Adolescents: A One-Year Longitudinal Study pode ser acessado em: www.mdpi.com/2227-9032/11/2/196.

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Enfraquecimento de instituições e falta de políticas locais fragilizam gestão de incêndios na Amazônia

Luciana Constantino | Agência FAPESP – Estudo recém-publicado no International Journal of Disaster Risk Reduction discute a governança de incêndios florestais na fronteira trinacional do sudoeste da Amazônia com a participação de representantes locais. A região, conhecida como MAP, engloba Madre de Dios, no Peru; o Estado do Acre, no Brasil; e Pando, na Bolívia.

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“Morando no Acre, temos pouco ou nenhum protagonismo, principalmente quando se fala de meio ambiente. Vemos cientistas de outras regiões e até de outros países falando da Amazônia, chamando a atenção para o tema, mas nós, que moramos aqui, ficamos fora dessa governança. Trazer esse olhar local das vulnerabilidades e das capacidades da região é um ponto muito positivo do nosso estudo”, diz a socióloga Gleiciane Pismel, colaboradora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e primeira autora do artigo.

Com base em uma pesquisa on-line, realizada durante a pandemia da COVID-19 (entre 2020 e 2021), o trabalho mostra que 60% de 111 entrevistados consideraram o desmatamento a principal causa dos incêndios florestais que atingem a Amazônia, seguido da utilização do fogo na gestão agrícola (58%) e das secas (39%).

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A percepção vai ao encontro dos resultados de estudos recentes sobre o assunto. O aumento das queimadas da floresta, associado ao avanço do desmatamento, tem sido uma das ameaças à conservação da Amazônia e de sua sociobiodiversidade (leia mais em: agencia.fapesp.br/40164/ e agencia.fapesp.br/39913).

Os entrevistados – gestores públicos, cientistas e representantes do terceiro setor – também apontaram como as principais vulnerabilidades na governança para conter os impactos do fogo na região as deficiências em instituições e órgãos de controle, associadas à redução de funcionários e limitação de recursos financeiros.

Além do enfraquecimento das instituições, as instabilidades de políticas públicas nacionais e locais apareceram como uma falha na governança. Em grande parte, essas ações apenas espelham propostas de medidas nacionais sem observar as peculiaridades de cada local. Outros pontos de atenção são a falta de participação da comunidade e os aspectos socioculturais do uso do fogo, principalmente em zonas de pastagem e agricultura próximas a áreas de preservação ambiental.

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“Um dos elementos de maior risco aos serviços ecossistêmicos, além do desmatamento, é a questão da degradação por incêndios, pelo corte seletivo e pelo efeito de borda associado à entrada do fogo na floresta, como mostramos na Science. Por outro lado, há um número muito limitado de pesquisas que avaliam a governança, especificamente associada às queimadas, um tema crescente, emergente e urgente que a Amazônia vem enfrentando. Nesse sentido, buscamos reunir uma equipe multidisciplinar e transfronteiriça para analisar a questão”, diz à Agência FAPESP Liana Anderson, pesquisadora do Cemaden e autora correspondente do artigo.

Anderson se refere ao estudo The drivers and impacts of Amazon forest degradation Os fatores condutores e os impactos da degradação florestal na Amazônia, em tradução livre), que foi um dos destaques de capa da edição do final de janeiro da revista Science. Ele revelou que aproximadamente 38% da atual área da Amazônia sofre com algum tipo de degradação causada por quatro fatores – fogo, extração seletiva de madeira (em sua maioria ilegal), efeitos de borda (que são mudanças em regiões de floresta ao lado de zonas desmatadas) e secas extremas, cada vez mais frequentes em decorrência das mudanças climáticas (leia mais em: agencia.fapesp.br/40568/).

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Vários olhares

Desenvolvido no âmbito do projeto MAP-FIRE, o estudo sobre governança de incêndios florestais teve o apoio da FAPESP por meio do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) e de Bolsa no Exterior – Pesquisa concedida ao pesquisador do Cemaden Victor Marchezini, que desde 2004 atua na área de sociologia dos desastres, buscando envolver as comunidades locais na prevenção de desastres ambientais.

O RCGI é um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell na Universidade de São Paulo (USP).

O projeto MAP-FIRE, criado em março de 2019 e ligado ao Laboratório de Ecossistemas Tropicais e Ciências Ambientais (Trees, na sigla em inglês), vem desenvolvendo um plano de adaptação de múltiplos atores para lidar com florestas sob risco crescente de incêndios extensivos, particularmente na região conhecida como MAP. Foram desenvolvidas pesquisas para conhecer os riscos de desastres, além de uma plataforma de monitoramento e alerta para apoiar o planejamento e a tomada de decisões relacionados à ocorrência de incêndios na área.

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“A pesquisa olha para os atores que estão no território de fronteira. Envolve representantes de organizações não governamentais, gestores públicos da região, além de cientistas interdisciplinares e transdisciplinares do Brasil, Peru e Bolívia como atores participantes em discussões de gestão de risco. Os desastres registrados ali não respeitam fronteiras político-administrativas, sendo necessário pensar em métodos inter e transdisciplinares para criar e fortalecer as ações de mitigação de riscos”, explica Marchezini, que atualmente faz pós-doutorado, com apoio da FAPESP, no Natural Hazards Center, da Universidade do Colorado-Boulder.

No trabalho, o grupo analisou as percepções sobre vulnerabilidades e capacidades na governança de incêndios florestais na região MAP sob quatro eixos: conhecimento do risco; monitoramento; educação e comunicação; e prevenção e resposta a desastres. As vulnerabilidades e capacidades foram avaliadas em oito dimensões: econômica, educacional, ambiental, organizacional, política, legal (jurídica), sociocultural e tecnológica.

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A concepção da pesquisa teve como ponto de partida um workshop on-line realizado durante a pandemia com 668 participantes dos três países. “Quando olhamos para um problema socioambiental, temos de ter diferentes perspectivas. E é isso o que o projeto MAP-FIRE e esse artigo trazem. Além de ser uma equipe multidisciplinar, contamos com pesquisadores dos três países, incluindo a Galia Selaya, que é da Bolívia, e o Eddy Mendoza, do Peru”, diz Pismel.

Além do comprometimento dos serviços ecossistêmicos da floresta e da perda de biodiversidade, os incêndios florestais podem se transformar em desastres transfronteiriços principalmente devido aos efeitos da fumaça que cruza as fronteiras, comprometendo a saúde humana, interrompendo o transporte e afetando a economia regional.

As micropartículas de fuligem, facilmente inaláveis, contribuíram, por exemplo, com o aumento de internações hospitalares por problemas respiratórios em cinco Estados da Amazônia Legal brasileira entre 2010 e 2020. Nota técnica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgada em março de 2021, apontou que no período foram registradas 174 internações hospitalares diárias por doenças do aparelho respiratório no Pará e 57 por dia em Mato Grosso.

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As queimadas também geraram elevado custo para o Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que o valor gasto nos cinco Estados com hospitalizações de alta e baixa complexidade chegou a R$ 1 bilhão no período.

Alternativas

Segundo os pesquisadores, um caminho para uma melhor governança contra incêndios na percepção dos participantes passa pelo fortalecimento das capacidades organizacionais, por investimentos adequados às questões socioambientais de acordo com a realidade de cada país e região do MAP, além de a necessidade de aumentar o capital humano das organizações do ponto de vista quantitativo e também qualitativo.

No Brasil, as defesas civis municipais são compostas de uma a duas pessoas, a maioria por indicação política, sem valorização profissional. Grande parte dos municípios também não tem orçamento para desempenhar ações de gestão de risco de desastres.

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Formular políticas públicas e leis que levem em consideração a realidade local, distribuindo responsabilidades e recursos entre os níveis nacional, regional e municipal, é outra necessidade destacada pelos pesquisadores.

“As pessoas que vivem na região, expostas ao fogo ou que o utilizam, acabam não sendo envolvidas em nenhum sistema de governança que as ajude a tomar decisão ou ser mais bem informadas. A melhoria na integração entre as instituições e na qualidade da comunicação dentro e entre elas pode ajudar. Assim como a educação ambiental e a necessidade de trazer a temática do fogo para o currículo escolar, conectando de forma muito clara com a realidade das pessoas que ali vivem”, afirma Anderson.

Para ajudar a preencher a lacuna do material educacional, os pesquisadores produziram um livro didático, voltado para a formação de professores, disponível on-line.

“O material foi uma forma de levar a temática para dentro da sala de aula, principalmente no contexto em que vivemos com o fantasma mundial das fake news. No Brasil, tivemos perda de infraestrutura, das capacidades organizacionais e, ao mesmo tempo, houve uma fragilização do conhecimento com as informações falsas. Quando você tem esse tipo de informação se disseminando na sociedade é muito difícil recuperar não só a confiança nas instituições que produzem informação e ciência, mas também reverter o pensamento. Às vezes a informação falsa chega, mas a contrapartida não vai com a mesma velocidade”, conclui Anderson.

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O artigo Wildfire governance in a tri-national frontier of southwestern Amazonia: Capacities and vulnerabilities pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2212420923000092.

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Indígenas da Amazônia possuem variante genética que protege contra a doença de Chagas

André Julião | Agência FAPESP – A baixa ocorrência de doença de Chagas entre povos indígenas da Amazônia pode ter uma explicação genética. Estudo publicado na revista Science Advances mostra que uma variante genética, presente na imensa maioria dos indivíduos analisados na região, possui importante papel na resistência à infecção pelo parasita transmissor da doença.

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“O continente americano foi o último ocupado pelos humanos modernos e tem uma grande variedade de ambientes. Isso certamente causou uma pressão seletiva sobre esses povos e induziu adaptações, como essa que estamos vendo agora”, explica Kelly Nunes, pesquisadora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP).

Nunes divide a primeira autoria do estudo com Cainã Couto Silva, à época doutorando na mesma instituição e bolsista da FAPESP.

As conclusões são fruto da análise de 600 mil marcadores do genoma de 118 pessoas de 19 populações indígenas, que representam a maior parte do território da Amazônia, tanto no Brasil como nos outros países que abrigam a floresta.

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Com auxílio de diferentes técnicas, os pesquisadores encontraram diferenças em genes envolvidos no metabolismo, no sistema imune e na resistência à infecção por parasitas como o Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. Uma das variantes mais frequentes, presente no gene conhecido pela sigla PPP3CA, ocorre em 80% dos indivíduos analisados.

A variante também está presente em outras populações, porém, numa frequência bem menor: 10% na Europa e 59% na África. Os autores acreditam que não é uma coincidência, uma vez que o continente africano possui regiões com condições ambientais similares à da Amazônia e abriga outra espécie do parasita, o Trypanosoma brucei, causador da doença do sono. O dado reforça o papel da variante como protetora contra infecções por protozoários.

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“Ao analisarmos as regiões endêmicas da doença na América do Sul, a área das populações analisadas é justamente onde a doença menos ocorre. Isso poderia se dar por uma baixa frequência do barbeiro, mas não é o caso, pois é onde ele tem a maior diversidade”, conta Tábita Hünemeier, professora do IB-USP que coordenou o estudo.

O trabalho integra o projeto “Diversidade genômica dos nativos americanos”, apoiado pela FAPESP (leia mais em: revistapesquisa.fapesp.br/ascensao-e-declinio-dos-tupi/ revistapesquisa.fapesp.br/filhos-de-ypykuera/).

Variante genética protetora

Para compreender o papel do gene PPP3CA na interação com o T. cruzi, o grupo converteu células-tronco pluripotentes, que podem ser transformadas em qualquer outra célula humana, em células cardíacas. Uma parte teve a expressão do gene PPP3CA reduzida em cerca de 65%. Outra parte realizava a expressão normal.

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Nas células com a expressão reduzida do gene, a capacidade de infecção dos protozoários foi aproximadamente 25% menor do que naquelas que tinham a expressão normal do PPP3CA.

“Isso mostra que o gene, em sua condição mais comum em outras populações, favorece a replicação do protozoário. Esse fator provavelmente levou os ancestrais dos indígenas amazônicos que tinham a variante protetora a serem menos infectados e sobreviverem mais à doença, passando esse traço para seus descendentes”, diz Nunes.

Cerca de 30% dos pacientes com doença de Chagas desenvolvem a forma crônica da doença, que leva à insuficiência cardíaca e mesmo à morte. Uma hipótese levantada pelos autores é que a variante genética encontrada no estudo, além da menor infectividade, favoreça uma forma mais leve da doença, que não avança para a fase crônica.

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“Não quer dizer que os povos nativos amazônicos nunca tenham Chagas, mas os que são infectados poderiam não desenvolver com tanta frequência essa fase crônica e até mortal”, esclarece Nunes.

Porém, nem todas as variantes encontradas são necessariamente vantajosas para os indígenas atuais. As análises também encontraram traços genéticos que favorecem doenças metabólicas e cardíacas.

Estudos de populações indígenas brasileiras mostram altos índices de pessoas obesas e de cardiopatas. Entre os Xavante, por exemplo, 66% sofrem de obesidade, diabetes e doença arterial coronariana.

Em populações de caçadores-coletores da Ásia e da África, variantes ligadas ao coração já foram apontadas como uma adaptação compensatória à baixa estatura dos indivíduos desses povos, o que pode ser também o caso dos indígenas analisados no estudo brasileiro.

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Foram encontradas ainda variantes relacionadas ao chamado comportamento de busca por novidade. No passado, esse traço pode ter sido importante para a exploração de novos territórios e busca por recursos. Em populações modernas, porém, genes que favorecem esse comportamento são ligados ao consumo de álcool, cafeína e nicotina.

Busca pela cura

Modelagens matemáticas apontaram para o surgimento da variante protetora contra a doença de Chagas cerca de 7,5 mil anos atrás, após as populações amazônicas se separarem das dos Andes.

Algumas evidências corroboram essa data. Uma análise de tecidos mumificados de 238 indivíduos do sul do Peru e norte do Chile, de um período que vai de 9 mil a 450 anos atrás, mostra um aumento na taxa de infecção pelo T. cruzi naquela parte da América do Sul ao longo do tempo. A região hoje é endêmica da doença.

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Outra evidência são ossos humanos de 7 mil anos encontrados no Brasil que continham sinais de infecção pelo parasita. Isso mostra que ele já existia por aqui naquele período, mas mesmo assim a doença não se tornou endêmica na região estudada.

“O estudo traz ainda um novo conhecimento sobre a infecção que pode ajudar no desenvolvimento futuro de novos tratamentos”, afirma Nunes.

A doença de Chagas é listada entre as 20 moléstias tropicais negligenciadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse conjunto de doenças afeta sobretudo pessoas pobres e não dispõe de tratamentos específicos sem efeitos colaterais fortes.

Nos últimos anos, o aumento de casos da doença na Europa e nos Estados Unidos finalmente tem chamado a atenção para a necessidade de se criar novos medicamentos (leia mais em: agencia.fapesp.br/35136/).

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O artigo Indigenous people from Amazon show genetic signatures of pathogen-driven selection pode ser lido em: www.science.org/doi/10.1126/sciadv.abo0234/.
 

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COVID-19 pode levar sistema imune à exaustão mesmo em jovens com quadro leve ou moderado

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Dados preliminares de um estudo feito na Universidade Estadual Paulista (Unesp) sugerem que a infecção pelo SARS-CoV-2 pode causar alterações severas no sistema imunológico até mesmo em pessoas jovens e saudáveis, com quadros leves ou moderados de COVID-19. No trabalho, pesquisadores brasileiros e portugueses avaliaram células de defesa de indivíduos não vacinados entre 30 e 180 dias após a infecção.

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“As células imunes dos pacientes infectados pelo vírus estavam em exaustão, algo semelhante ao que acontece com as células de pessoas com obesidade grau 2 ou 3, com doenças crônicas, como diabetes, ou já idosas. Mas é algo completamente inesperado para pessoas jovens e sem problemas de saúde”, conta à Agência FAPESP Fábio Santos de Lira, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT-Unesp), campus de Presidente Prudente.

Os dados, que foram apresentados em congresso promovido pela Sociedade Internacional de Imunologia e Exercício nos Estados Unidos, integram o projeto FIT COVID, apoiado pela FAPESP. O objetivo do grupo, que envolve pesquisadores de instituições paulistas e da Universidade de Coimbra (Portugal), é investigar os efeitos da COVID-19 nos sistemas imune, vascular e nervoso autônomo (ramo do sistema nervoso central que controla respiração, circulação sanguínea e outras funções vitais) de pessoas com menos de 40 anos e que apresentaram quadros leves e moderados da COVID-19. A proposta é acompanhar o impacto da doença nos voluntários até dois anos depois da infecção.

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“Nosso projeto busca saber os efeitos da COVID-19 na população jovem e saudável, que foi totalmente negligenciada no início da pandemia. Esses indivíduos foram para o hospital, tiveram o diagnóstico, mas, como tinham sintomas leves ou moderados, não foram assistidos. Então, voltaram para casa e fizeram o isolamento sem nenhum acompanhamento. No entanto, nossos estudos estão mostrando que até mesmo essas pessoas, ao serem infectadas, podem ter sofrido fortes prejuízos nos sistemas analisados”, afirma Lira.

O pesquisador explica que o principal sinal das alterações observadas no sistema imunológico desses indivíduos foi o cansaço extremo. O grupo comparou o sistema imune de 20 pessoas infectadas com o de 20 não infectadas e observou uma série de alterações naquelas que tiveram COVID-19, entre elas função pulmonar prejudicada, menor nível de atividade física e – ao contrário dos pacientes que tiveram doença grave – menor concentração de moléculas pró-inflamatórias conhecidas como citocinas, que são produzidas para avisar o sistema imune sobre a necessidade de enviar mais células de defesa ao local da infecção.

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“Isso é uma autorregulação do sistema imune. Talvez, por conta da baixa quantidade de citocinas, esses indivíduos não tiveram a forma grave da doença. Foi um mecanismo que conseguiu contrabalançar os efeitos do vírus. Isso porque houve diminuição da interleucina-6 [importante mediador da resposta inflamatória conhecida como tempestade de citocina]. Além disso, houve aumento da interleucina-10 e do receptor solúvel do TNF-alfa [citocinas anti-inflamatórias]. Houve também aumento da prostaglandina, que é uma molécula inflamatória, e alteração do perfil lipídico – esses indivíduos apresentavam a fração de triglicérides elevada e mais leptina [hormônio envolvido na regulação do apetite]”, explica.

A coleta das amostras ocorreu em maio de 2021, quando essa população ainda não tinha sido vacinada. Além dos dados mensurados logo após a infecção, os pesquisadores colheram amostras de sangue desses pacientes após o esquema vacinal completo (quando todos já haviam sido vacinados) e vão colher com um ano após a vacinação.

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Exaustão

O pesquisador explica que, por serem jovens e clinicamente saudáveis, o esperado era que essas pessoas apresentassem pequenas alterações no sistema imune. “Mas o que vimos ao avaliar o metabolismo energético das células imunológicas é que ele está completamente alterado. O vírus consegue reprogramar as células imunes e levá-las para um status totalmente inflamatório. Trata-se, portanto, de um vírus muito agressivo, mesmo para pessoas jovens, saudáveis e comprovadamente sem nenhum problema clínico”, ressaltou Lira.

Outro achado do estudo foi o papel parcialmente protetor da atividade física contra os efeitos prejudiciais do SARS-CoV-2 no sistema imune. Ao analisar as células de defesa, entre elas monócitos e linfócitos T, os pesquisadores observaram que os indivíduos infectados apresentavam um perfil anti-inflamatório reduzido das células T reguladoras. Já a proteína PD1 – que tem a função de impedir que as células T ataquem outras células do corpo – estava aumentada tanto nos linfócitos T CD4 quanto T CD8.

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“De maneira curiosa, o nível de atividade física desses pacientes protegeu parcialmente contra as alterações no sistema imune. Quanto maior o nível de atividade física, maior era a proteção contra as alterações na [célula T] CD8, mas não na CD4”, diz o pesquisador.

Os pesquisadores analisaram ainda a condição muscular, medindo a força de pressão da mão e realizando testes como sentar e levantar, caminhada de seis minutos e de força do quadríceps.

“Entre os parâmetros de força muscular, só encontramos diferença no teste de seis minutos. O grupo COVID percorreu uma distância menor que o grupo-controle. Mas quando analisamos a parte respiratória – a função respiratória, tanto absoluta quanto relativa, e o volume forçado – tudo estava prejudicado estatisticamente no grupo infectado. Todos os valores foram menores. Portanto, isso confirma que eles tiveram comprometimento da função pulmonar e também na tolerância ao exercício”, afirma.

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Também foi avaliado o metabolismo energético das células imunes, o que mostrou uma predominância do metabolismo glicolítico [geração de energia por meio da quebra de glicose] na produção de energia do organismo. “A predominância do metabolismo glicolítico significa que há um caráter pró-inflamatório. Portanto, a célula está exausta, pois está produzindo muita citocina em repouso e, quando estimulada, ela não responde. Todo esse quadro demonstra uma enorme deficiência no sistema imune”, diz.

Alterações no sistema nervoso

Além do monitoramento do sistema imune de indivíduos jovens que tiveram COVID-19 antes de serem vacinados, o FIT-COVID está analisando os prejuízos ocorridos no sistema nervoso autônomo – que funciona de modo involuntário para que ocorram os batimentos cardíacos, por exemplo. Os dados mostram que, cinco meses após estarem curados da doença, os prejuízos no sistema nervoso autônomo se restabeleceram, voltando à normalidade.

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Os resultados desse braço da pesquisa foram apresentados em dois artigos científicos publicados na revista Environmental Research and Public Health em fevereiro de 2022 e em janeiro deste ano (leia mais em: agencia.fapesp.br/38061/).

Vale lembrar que o sistema nervoso autônomo é dividido em duas partes: o sistema simpático e o parassimpático. O sistema simpático é responsável pelas alterações no organismo em situações de alerta, preparando o organismo para enfrentar ou fugir de uma ameaça. Envolve, portanto, maior gasto de energia. Cabe a esse ramo aumentar a frequência cardíaca e a pressão arterial, liberar adrenalina, contrair e relaxar músculos, dilatar os brônquios, dilatar as pupilas, aumentar a transpiração. Já o sistema nervoso parassimpático normaliza o funcionamento dos órgãos internos depois da situação de alerta.

Nessa parte do estudo, a análise da frequência cardíaca até 180 dias após os indivíduos terem sido infectados mostrou uma atividade simpática aumentada durante o repouso.

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“É esperado que no repouso a atividade parassimpática esteja mais alta que a simpática, pois o sistema nervoso simpático está relacionado com a atividade física. Se uma pessoa precisa sair correndo de repente por algum motivo é o sistema nervoso simpático que controla as respostas do corpo, como aumento da frequência cardíaca, a esse estresse. Portanto, especialmente em adultos jovens e saudáveis o esperado seria uma atividade parassimpática no repouso superior à atividade simpática”, explica Ana Paula Coelho Figueira Freire, professora da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) e primeira autora dos artigos.

Freire ressalta que o desequilíbrio no sistema nervoso autonômico encontrado em pessoas jovens e saudáveis infectadas pelo SARS-CoV-2 pode estar relacionado com níveis inflamatórios mais altos. “Alguns fatores que podem estar associados a esse desequilíbrio no sistema nervoso autônomo e sua recuperação cinco meses depois é o controle da tempestade inflamatória ao longo do tempo. É o sistema imune se recuperando e reduzindo os níveis inflamatórios, podendo impactar isso no sistema nervoso autônomo, ou seja, a própria resolução da inflamação ao longo do tempo”, diz Freire.

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“A variabilidade da frequência cardíaca demonstrou que os índices mais elevados de sistema simpático podem estar relacionados a uma eventual comorbidade cardiovascular e até mesmo a morte súbita”, diz.

Freire ressalta que, mesmo com a recuperação do sistema nervoso autônomo após cinco meses, o achado dá uma perspectiva maior para pesquisadores e profissionais da saúde compreenderem o curso da doença. “Até indivíduos adultos jovens não estão livres de apresentar comprometimentos causados pela COVID-19. Mesmo com o sistema nervoso autônomo tendo se restabelecido numa janela de tempo de cinco meses, é relevante aprofundarmos o entendimento de como a doença se comporta, especialmente nessa população jovem”, afirma Freire.

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Além do monitoramento desses pacientes dois anos após terem sido infectados, o FIT COVID tem uma segunda fase de estudos que visa avaliar células imunes de atletas olímpicos que não foram infectados pelo SARS-CoV-2 antes de terem sido vacinados.

“Nosso objetivo é isolar as células imunes desses atletas olímpicos – sabidamente muito eficientes – e, em laboratório, observar como elas reagem ao soro sanguíneo desses indivíduos jovens e saudáveis. Queremos saber se essas células conseguem amenizar os efeitos pró-inflamatórios do soro do indivíduo infectado antes da vacina e depois da vacina”, afirma Lira.

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O artigo Role of Body Mass and Physical Activity in Autonomic Function Modulation on Post-COVID-19 Condition: An Observational Subanalysis of Fit-COVID Study pode ser lido em: www.mdpi.com/1660-4601/19/4/2457.

Já o estudo Autonomic Function Recovery and Physical Activity Levels in Post-COVID-19 Young Adults after Immunization: An Observational Follow-Up Case-Control Study está disponível em: www.mdpi.com/1660-4601/20/3/2251.

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Novo centro da USP pretende combinar pesquisa em saúde mental com atendimento digital à população

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – O Centro Nacional de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM) foi lançado oficialmente em evento realizado na última quarta-feira (15/03), no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FM-USP).

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Iniciativa conjunta do Departamento de Psiquiatria da FM-USP e da FAPESP, o CISM deverá combinar atividades de pesquisa, buscando os fatores que originam e precipitam os transtornos mentais, com o desenvolvimento de intervenções digitais que possam promover a saúde mental da população de forma mais inovadora e escalável. Além disso, se propõe a estudar a implementação de intervenções comprovadamente efetivas no Sistema Único de Saúde (SUS), de modo a garantir que o conhecimento gerado pela ciência em saúde mental se traduza em benefícios reais à população.

Reunindo pesquisadores das faculdades de medicina da USP, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as mais produtivas em saúde mental da América Latina, o CISM já conta com um expressivo leque de parcerias ou assessorias internacionais, entre elas as das universidades Harvard e Yale, nos Estados Unidos.

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Além do substancial aporte financeiro provido pela FAPESP, sua criação contou com recursos do Banco Industrial do Brasil (BIB). No âmbito da FAPESP, o CISM ficará alocado entre os Centros de Pesquisa em Engenharia/Centros de Pesquisa Aplicada (CPEs/CPAs) mantidos pela Fundação.

Em apresentação feita durante o evento, Eurípedes Constantino Miguel Filho, vice-chefe do Departamento de Psiquiatria da FM-USP e coordenador do projeto, informou com mais detalhes como serão os três eixos estruturantes do CISM.

“No Eixo 1, ‘Neurociência Populacional’, teremos um estudo de coorte [acompanhamento de um grupo de voluntários] que buscará identificar os fatores de risco importantes na origem dos transtornos mentais. No Eixo 2, ‘Intervenções Digitais’, queremos criar um ambiente de inovação em que identificamos as necessidades da população em saúde mental e partimos para a prototipagem e desenvolvimento de aplicativos que possam dar conta destes problemas, sendo devidamente testados do ponto de vista de sua eficácia clínica. No Eixo 3, ‘Ciência da Implementação’, pretendemos implementar intervenções baseadas em evidências no Sistema Único de Saúde de duas cidades do Estado de São Paulo, Jaguariúna e Indaiatuba. O objetivo final é oferecer soluções testadas para serem disseminadas pelo país e adotadas como políticas públicas”, disse.

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Referência internacional

A expectativa é que o modelo do CISM não apenas extrapole as fronteiras paulistas, podendo motivar iniciativas semelhantes em outros Estados brasileiros, mas também se torne uma referência internacional, principalmente, mas não apenas, para países de baixa e média rendas per capita.

Miguel Filho lembrou que os transtornos mentais afetam cerca de 30% da população na megalópole de São Paulo. Esse número foi levantado por uma pesquisa realizada há mais de dez anos, mas que continua referencial na área (leia mais em: agencia.fapesp.br/15215/).

“Além disso, entre todas as condições médicas, os transtornos mentais se destacam por representar uma grande carga de doença para a população, por serem frequentes, iniciarem cedo na vida e causarem incapacidade e sofrimento”, ressaltou.

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Um dado quase sempre ignorado é que os transtornos mentais têm início precoce, tendo seu pico de incidência entre os 14 e 15 anos de idade. Por outro lado, o acesso ao tratamento é limitado. Estudo que utilizou uma base de dados de mais de 60 mil indivíduos no Brasil mostrou que, por ocasião do levantamento, apenas 20% das pessoas com depressão haviam recebido algum tipo de tratamento. E que uma porcentagem importante da população mais vulnerável não estava recebendo ajuda. Esses números sobrelevam a importância do CISM para o sistema de saúde brasileiro.

Na sequência da apresentação, Luis Augusto Rohde, professor titular do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS, desenvolveu o tema das tecnologias digitais em saúde mental, contemplado pelo Eixo 2. E afirmou que, embora os aplicativos dedicados à saúde mental tenham explodido no mercado, apenas 2% deles são respaldados por pesquisas. “Além disso, 90% dos usuários abandonam os aplicativos em um prazo de dez dias”, disse.

A proposta de criação do “Hub Saúde Mental Digital” visa superar esse quadro, tornando-se um centro de referência nacional para incubação e aceleração de soluções digitais inovadoras em saúde mental. E, em parceria com o INOVA-HC (núcleo de inovação tecnológica do hospital), estabelecer um centro de acreditação para soluções digitais inovadoras em saúde mental.

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O detalhamento do Eixo 3 foi feito por Paulo Rossi Menezes, professor titular do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Ele informou que aproximadamente 50% das intervenções médicas que têm eficácia cientificamente comprovada não chegam à prática clínica. E que o tempo médio necessário para a implementação gira em torno de 20 anos. Ou seja, não basta produzir conhecimento de qualidade, é preciso saber como colocá-lo em prática – o que torna a própria implementação uma ciência.

Além de Miguel Filho, Rohde e Menezes, a coordenação do CISM conta com a participação de Jair de Jesus Mari, professor titular do Departamento de Psiquiatria da Unifesp.

No evento de lançamento, entre várias autoridades, estiveram presentes Vahan Agopyan, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo; Carlos Gilberto Carlotti Júnior, reitor da USP; Eloisa de Oliveira Bonfá, diretora da FM-USP; Carlos Alberto Mansur, CEO do BIB; Marco Antonio Zago, presidente do Conselho Superior da FAPESP; e Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fundação.

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Zago contou que a proposta original do CISM, que vinha com a doação privada do BIB, não correspondia exatamente ao modelo dos CPEs/CPAs, que é hoje o maior programa de cooperação entre universidades e empresas do Brasil, com um investimento de R$ 1,5 bilhão.

“O professor Luiz Eugênio Mello trabalhou intensamente, junto com o Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da FAPESP, para formatar esse centro que estamos lançando aqui agora. E é isso que eu quero comemorar, a capacidade de nossos diferentes atores de obter os resultados que importam para a sociedade”, sublinhou Zago.

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