A cena do jazz parisiense vive um momento de efervescência criativa. Entre tantos talentos que circulam pelos palcos da capital francesa, um nome brasileiro tem se destacado com força e originalidade: Isaías Alves. O músico, compositor e pesquisador maranhense assume a direção de concertos e jam sessions de música popular e jazz maranhense no prestigiado Baiser Salé Jazz Club, um dos espaços mais emblemáticos da cena jazzística de Paris, a capital cultural da Europa.
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Com o projeto “La Jam du Dimanche de Isaías Alves – Tambores Ancestraux: Jazz du Maranhão et du Brésil”, Isaías inaugura uma programação fixa dedicada ao jazz do Maranhão, que segue até julho de 2026, consolidando um novo espaço de escuta para a música brasileira contemporânea e suas raízes afro-indígenas, colocando o Maranhão na cena internacional do jazz.
“Agora, mais do que nunca, reconheço todo o esforço de anos desenvolvendo tudo isso. O apoio, a valorização e o respeito aqui são impressionantes. Sou muito grato”, afirma o músico, consciente de que seu trabalho representa não apenas uma conquista pessoal, mas também um marco histórico para a cultura maranhense e brasileira.
O som do Maranhão no coração da Europa Nascido no Bairro de Fátima e criado no Bom Jesus Coroadinho, em São Luís, Isaías cresceu cercado pelos ritmos da cultura popular: o tambor de crioula, o bumba meu boi, o tambor de mina e o reggae de radiola. Ao longo da carreira, transformou essas referências em uma linguagem artística sofisticada, aproximando-as das harmonias complexas e do improviso livre do jazz contemporâneo.
O resultado é uma sonoridade única, que transita entre o terreiro e o palco internacional, entre o canto ancestral e o arranjo moderno. “Cada nota é uma forma de gratidão aos meus ancestrais. É como se eu traduzisse o toque do tambor para a linguagem do jazz, sem nunca perder o espírito de onde tudo nasce”, explica Isaías.
Em Paris, sua música encontrou acolhimento imediato. Em meio a uma cena plural, onde o jazz dialoga com sonoridades da África, do Oriente e das Américas, o som de Isaías se destaca pela profundidade rítmica e pela força poética.
Após uma série de apresentações arrebatadoras, veio o convite para assumir a curadoria do Baiser Salé. Desde então, as noites de domingo ganharam sotaque maranhense, com jam sessions que reúnem instrumentistas franceses e brasileiros em celebrações de improviso e ancestralidade.
Além da direção artística no Baiser Salé Jazz Club, Isaías Alves é presença marcante nos principais palcos do jazz parisiense, como o Le Duc des Lombards, o Sunset Sunside e o 38Riv, entre outros espaços que consolidam sua reputação como um dos nomes mais originais da cena contemporânea.
Sua atuação na criação do Bumba Meu Boi Novilho de Paris, grupo que leva para as ruas da capital francesa a força e a alegria dos festejos maranhenses, ampliou ainda mais sua visibilidade e reafirmou o vínculo entre sua arte e as tradições populares do Brasil. Todas essas ações, somadas à sua trajetória consistente de pesquisa e performance, foram determinantes para que o músico fosse convidado a assumir a curadoria de concertos e jam sessions no Baiser Salé, levando o som do Maranhão ao coração da Europa com autoridade e pertencimento.
Um novo capítulo na história do jazz brasileiro
O feito é inédito: pela primeira vez, o Baiser Salé, reconhecido por revelar grandes nomes do jazz europeu, dedica uma temporada inteira à música maranhense. A programação de “Tambores Ancestrais” propõe um diálogo entre tradição e vanguarda, fazendo ecoar em Paris a potência sonora do Maranhão, território onde o ritmo é herança e resistência.
“Quando toco aqui, sinto que não estou sozinho. É como se os mestres populares, as vozes das quebradas e os toques de terreiro estivessem comigo. A música é um canal, e meu papel é deixar que ela aconteça”, diz o artista.
Isaías leva para o palco o rigor do pesquisador e a entrega do griô. Suas composições, construídas sobre a base rítmica dos tambores maranhenses, desafiam as convenções harmônicas do jazz sem perder a alma popular. O público parisiense, acostumado ao jazz americano e europeu, encontra ali algo novo: uma música que vibra com calor, memória e espiritualidade.
O futuro ecoa no tambor
Mais do que uma conquista individual, a trajetória de Isaías Alves representa uma virada simbólica. Ao ocupar um espaço de destaque na cena jazzística europeia, o músico coloca o Maranhão e, por extensão, o Brasil profundo no centro de uma conversa global sobre música, identidade e ancestralidade.
“Tambores Ancestrais” é mais do que um projeto artístico: é uma travessia, um gesto de afirmação da cultura popular como fonte de invenção e de futuro. O jazz maranhense, nas mãos de Isaías, não é um gênero nem uma fusão. É um estado de espírito, uma batida que ultrapassa fronteiras e anuncia que o coração do jazz também pulsa nas margens do Atlântico Sul.


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