Em uma escola pública de Florianópolis, a linha que separa a educação do conflito ideológico se dissolveu. Dois educadores, Juliana Andozia e Andrei Dorneles, tornaram-se os rostos visíveis de uma crise que assola o magistério: a escalada de violência e intimidação promovida por grupos extremistas. A perseguição, iniciada nas redes sociais, transbordou para a vida real, resultando em exílio, medo e um rastro de saúde mental abalada.
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A orientadora escolar Juliana é alvo de uma campanha sistemática de assédio desde 2023, quando acolheu uma aluna transgênero. A hostilidade, alimentada em grupos de WhatsApp por um movimento intitulado “Pais Conservadores de Floripa”, rendeu-lhe boletins de ocorrência e processos administrativos. O vereador João Paulo Ferreira (PL-SC), conhecido como Bericó, foi condenado a cumprir 70 horas de serviços comunitários após incitar ataques contra a professora em suas redes sociais.
Já o professor de Artes Andrei Dorneles tornou-se a vítima da radicalização que se intensificou. Ele sofreu uma agressão física, com socos e chutes, a poucos metros da escola, por um pai de aluno. As acusações que levaram ao ataque, nunca comprovadas, circularam em grupos online. Professor há 18 anos, Andrei viu-se forçado a um autoexílio, dependente de medicamentos para dormir e tratando crises de ansiedade e pânico.
O fio condutor da perseguição é a oposição dos docentes ao projeto de militarização da escola, uma bandeira defendida pelo grupo de pais e por políticos alinhados a uma agenda de guerra cultural. Andrei conta que, após a agressão, o grupo extremista manteve o foco na defesa da militarização, sem questionar a conduta do professor. Para Juliana, a violência sofrida pelo colega foi um capítulo previsível na escalada de tensão.
A Secretaria de Educação de Santa Catarina informou, por e-mail, que possui um projeto de combate à violência contra professores, com previsão de lançamento para outubro. As medidas prometem sensibilização de estudantes e famílias, acolhimento ao professor vítima e registro de ocorrências. Para Juliana e Andrei, no entanto, a ausência de uma proteção estatal efetiva já aprofundou feridas.
Os transtornos de saúde mental são a principal causa de afastamento de docentes, afetando 62% da categoria, segundo relatório de 2024. Em resposta, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinte-SC) lançou um canal de denúncias para mapear e combater a violência nas escolas.
Enquanto Juliana resiste dentro da escola, temendo a cada dia um processo que a demita, Andrei tenta reconstruir a vida longe da sala de aula. Sua luta agora é judicial, na esperança de que os responsáveis pela difamação sejam responsabilizados publicamente. O projeto que os une, segundo ele, é simples: garantir que a educação cumpra seu papel. Em Florianópolis, esse ideal tornou-se um campo de batalha.
Com informações do ICL Notícias.


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