Um retrato detalhado da mobilidade do brasileiro foi divulgado nesta quarta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados do Censo Demográfico 2022 revelam que a maioria esmagadora da população ocupada (88,4%) trabalha no próprio município onde mora e que, para 56,8% dessas pessoas, o trajeto de casa ao trabalho leva de seis minutos a meia hora. Apesar da aparente agilidade, o cenário de deslocamento é marcado por profundas desigualdades: o automóvel, meio de transporte de apenas 32,3% dos trabalhadores, evidencia um abismo social, racial e regional.
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Os resultados, publicados no estudo “Censo 2022: Deslocamentos para trabalho e para estudo”, mostram que o transporte individual motorizado – carro e motocicleta – é o mais utilizado, mas sua distribuição é desigual. Enquanto no Sul e no Centro-Oeste o uso do carro é predominante, chegando a quase metade dos trabalhadores no Sul (45,9%), no Norte e Nordeste a motocicleta lidera. O transporte coletivo por ônibus é a principal escolha para 21,4% dos brasileiros, mas sua presença é mais forte no Sudeste.
Desigualdade no trajeto
As diferenças ficam ainda mais evidentes quando se analisa o perfil racial dos usuários de cada meio de transporte. A população branca é a que mais utiliza automóvel (42,9%), sendo que esse grupo representa 59% de todos os que dirigem para trabalhar. Já a população preta depende majoritariamente do ônibus (29,5%) e a parda apresenta uso similar entre carro, ônibus, moto e deslocamento a pé.

O tempo de deslocamento também reflete essas disparidades. Trabalhadores pretos (13,9%) e pardos (11%) estão mais presentes na faixa de quem leva mais de uma hora até duas horas no trajeto, proporção superior à dos brancos (8,9%).
Trabalho em casa e fluxo pendular
O Censo 2022 também quantificou o trabalho no próprio domicílio, realidade para 16,9% dos ocupados, ou 14,7 milhões de pessoas. Esse formato é mais comum entre mulheres (19,3%) do que entre homens (15,1%). Por outro lado, os homens são maioria (11,6%) no grupo que trabalha fora do município de residência, um contingente de 9,3 milhões de pessoas que ilustra um significativo fluxo pendular entre cidades.

A renda é outro fator crucial. A proporção de pessoas que se desloca para outro município triplica quando se compara a faixa de renda domiciliar per capita de três a cinco salários mínimos (13,2%) com a de quem ganha até um quarto do salário mínimo (4,6%). Já o trabalho em casa é majoritário entre os sem rendimento e se torna mais comum conforme aumenta o nível de instrução.
Estudantes viajam mais para a graduação
No campo da educação, o Censo mostrou que 7,2% dos 53,6 milhões de estudantes no Brasil se deslocam para outro município. Esse percentual salta quando se trata do Ensino Superior: 27,8% dos universitários de graduação e 32,9% dos alunos de pós-graduação estudam em uma cidade diferente da que residem. A população de cor ou raça amarela é a que mais se desloca para estudar fora (11,5%), enquanto os indígenas são o grupo com maior percentual estudando no próprio município (95,9%).

Os dados, segundo o IBGE, são fundamentais para o planejamento de políticas públicas de mobilidade urbana e integração regional, fornecendo um panorama detalhado dos fluxos que movem a população brasileira diariamente.


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