Um fio condutor de alto padrão, com custos que podem chegar a dezenas de milhares de reais por hora, liga o senador Weverton (PDT-MA) a Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, lobista preso e apontado como operador central de um esquema de R$ 6 bilhões nos cofres da Previdência. Documentos e imagens obtidos pelo Metrópoles mostram que ambos utilizaram o mesmo jatinho particular em 2024, uma aeronave cujo proprietário é o advogado que defende o lobista perante o Supremo Tribunal Federal (STF).
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O Metrópoles flagrou o senador Weverton descendo do avião, um Beechcraft F90 de prefixo PT-LPL, nos dias 1º e 15 de setembro, no Aeroporto Internacional de Brasília, após viagens de São Luís (MA). Investigação apurou que, pelo menos desde o início do ano, a rota predominante da aeronave é justamente entre Brasília, São Paulo e a capital maranhense.
Documentos consultados revelam que o “Careca do INSS” usou o mesmo jatinho em pelo menos duas ocasiões em 2024: em 2 de fevereiro e 13 de julho, partindo de um aeroporto executivo em São Paulo. O uso da aeronave por Antunes já é monitorado pela Polícia Federal (PF), que conduz a Operação Sem Desconto.
A propriedade do avião pertence formalmente à Air Connect S/A, da empresária maranhense Joelma dos Santos Campos, que o adquiriu por R$ 2,8 milhões em 2022. Joelma é esposa do advogado Erik Marinho, que confirmou ser o real proprietário da aeronave. Erik Marinho é segundo suplente do senador Efraim Filho (União Brasil-PB) e mora em São Luís, onde participa de eventos ao lado de Weverton, a quem chamou de “amigo advogado” em sessão do Senado.
Acesso privilegiado à investigação
A conexão ganha contornos mais complexos porque Erik Marinho detém uma procuração assinada pelo “Careca do INSS” para representá-lo nos autos da Operação Sem Desconto no STF. Embora a defesa pública do lobista seja liderada pelo criminalista Cleber Lopes de Oliveira, a procuração concedida a Marinho lhe garante acesso legal a todos os detalhes sigilosos do inquérito, incluindo provas colhidas pela PF sobre seu cliente e suas conexões.
Isso significa que o proprietário do avião usado pelo senador Weverton tem ingresso nos segredos da investigação que mira seu passageiro eventual, o lobista. A situação revela uma teia de relações que vai além do compartilhamento de um meio de transporte de luxo.
Justificativas divergentes
Procurado pela imprensa, o senador Weverton afirmou que apenas pega “carona” na aeronave e negou ter voado ao lado do “Careca do INSS”. Em nota, disse que seus deslocamentos são de “absoluta normalidade” e lamentou tentativas de vincular seu nome ao caso do INSS, que afirma condenar.
Já Erik Marinho explicou que faz “uso compartilhado” do avião e que o “empresta” para o senador, às vezes cobrando despesas. Sobre o lobista, confirmou o uso, mas alegou não se lembrar das datas. Marinho afirmou desconhecer o “Careca do INSS” e não soube explicar como emprestou o jatinho a um “desconhecido”. Classificou o fato de ambos usarem a mesma aeronave como “pura coincidência”.
Conexões em expansão
Esta não é a primeira ligação do entorno de Weverton com o esquema. Reportagens anteriores revelaram que um ex-assessor do senador, Gustavo Marques Gaspar, deu procuração a Rubens Oliveira Costa, o “homem da mala” do Careca do INSS, para movimentar recursos de uma empresa. O lobista também colocou à venda um carro que está em nome do ex-assessor.
A CPMI do INSS deve ouvir o “Careca do INSS” nesta quinta-feira (25/9). A comissão também avalia convocar o aliado de Weverton, Gustavo Gaspar, para prestar esclarecimentos. Os novos laços aéreos devem ampliar o escrutínio sobre as relações entre o mundo político e o núcleo do esquema criminoso.


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