A incoerência da “defesa da vida” seletiva

A direita brasileira se apropriou do termo “pró-vida” como um slogan vazio.

📝 Este é um editorial do Portal Cubo.
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1º Encontro Maranhense em Defesa da Vida, realizado no último sábado (7) em São Luís, prometia debater a proteção da vida “desde a concepção”. No entanto, a presença do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) como um de seus palestrantes expõe o cinismo de um discurso que, em nome da moralidade, ignora contradições gritantes. Como pode um político denunciado por homicídio e reincidente em dirigir embriagado — atos que ceifaram vidas — ser elevado à condição de paladino da “defesa da vida”?

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Gayer não é um caso isolado. Ele integra uma bancada que, sob o véu do conservadorismo, normaliza a violência quando convém. Em 2000, seu acidente após dirigir bêbado, matou três pessoas. Quinze anos depois, foi flagrado novamente alcoolizado ao colidir com um ponto de ônibus. Esses fatos não são “erros do passado”, como muitos tentam minimizar; são demonstrações de um padrão de irresponsabilidade que, em qualquer sociedade minimamente séria, deveria impedi-lo de ocupar espaços de poder.

Mas o PL e seus aliados não se importam. O evento, organizado por Allan Garcês (PL-MA) e apoiado por figuras como Damares Alves e Nikolas Ferreira, revela uma seletividade perversa: a “vida” a ser defendida é apenas aquela que se alinha a sua agenda ideológica. Enquanto se opõem ao aborto com discursos inflamados, fecham os olhos para a morte causada pela negligência no trânsito, pela falta de políticas públicas de segurança viária ou pela brutalidade policial nas periferias.

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Felizmente, o evento não passou sem contestação. O professor e ex-vereador Wesley Sousa, presente no local, confrontou os palestrantes com perguntas incômodas. Seu vídeo, viralizado nas redes, escancarou a hipocrisia de um encontro que exclui do debate as vidas que não servem à narrativa da extrema direita. Enquanto Gayer discursava sobre “valores familiares”, Sousa lembrava que a verdadeira defesa da vida exige coerência — algo raro em quem compactua com milícias, desmonta o SUS e vota contra direitos trabalhistas.

A direita brasileira se apropriou do termo “pró-vida” como um slogan vazio. Defendem fetos, mas não as crianças que morrem por falta de merenda escolar; pregam a “família tradicional”, mas apoiam deputados com histórico de violência; erguem a bandeira da moralidade, mas abraçam aliados com as biografias mais manchadas. Enquanto isso, a esquerda precisa ocupar cada vez mais esses espaços para desmascarar a falácia conservadora. A vida, afinal, não é uma questão de retórica — é de ação política. E ação, como Wesley Sousa mostrou, muitas vezes começa com um simples ato de coragem: o de enfrentar os hipócritas.

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