A recente polêmica envolvendo o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), e a reação indignada de Jair Bolsonaro (PL) expõem, mais uma vez, a seletividade moral que domina o debate político no Brasil. Enquanto o ex-presidente se apresenta agora como vítima de um suposto “discurso de ódio”, sua própria trajetória é marcada por incitações explícitas à violência contra adversários — sem que isso tenha gerado, na época, a mesma comoção institucional que ele hoje reclama.
Bolsonaro, em suas redes sociais, questiona por que não houve “abertura de inquérito” ou “nota do STF” contra Jerônimo, como se ele próprio não tivesse sido o principal promotor de um vocabulário agressivo na política brasileira. Em 2018, durante a campanha eleitoral, o então candidato pegou um tripé de câmera, simulou um fuzil e bradou: “Vamo fuzilar a petralhada aqui do Acre!” A cena, amplamente divulgada, não só não foi punida como foi naturalizada por setores da mídia e da Justiça, que trataram o caso com leniência.
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Agora, quando um governador petista faz uma declaração agressiva — ainda que condenável —, Bolsonaro se coloca no papel de mártir, como se nunca tivesse semeado o mesmo ódio que hoje diz combater. A diferença é que, no seu caso, as palavras se materializaram em violência real: o assassinato do petista Marcelo Arruda por um bolsonarista radicalizado é apenas um exemplo trágico do que a retórica incendiária pode provocar.
É sintomático que, enquanto a esquerda é frequentemente criminalizada por seus protestos e falas, figuras da extrema direita gozem de uma espécie de imunidade retórica. Quando um petista erra no tom, a máquina jurídica e midiática se mobiliza com velocidade. Já quando um bolsonarista ameaça, agride ou até mata, o caso é tratado como “isolado” ou “passional”.
A democracia não pode ser um jogo de regras desiguais. Se queremos combater o discurso de ódio, ele deve ser enfrentado em todas as suas formas — inclusive quando vem de quem hoje se diz ofendido por ele. A hipocrisia de Bolsonaro, porém, revela algo ainda mais profundo: a certeza de que, para alguns, a violência sempre será justificada quando servir a seus interesses.
Enquanto isso, a esquerda deve responder com firmeza: rejeitar qualquer apologia à violência, mas não aceitar a falsa equivalência de quem transformou o ódio em plataforma política. A memória de vítimas como Marcelo Arruda merece mais do que a seletividade conveniente de quem nunca levou a democracia a sério.
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