A pandemia de Covid-19 escancarou as feridas mais profundas da desigualdade e da negligência do Estado brasileiro. Enquanto mais de 712 mil vidas foram perdidas, famílias enlutadas ainda esperam por justiça. O Acervo da Pandemia, lançado pela Unifesp e pela Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico), surge como um instrumento crucial para documentar os crimes cometidos por um governo que transformou a crise sanitária em política de morte. Mas uma pergunta ecoa: por que os responsáveis ainda não estão presos?
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O acervo não é apenas uma coleção de documentos—é a prova de um projeto político de extermínio. Pesquisadores descrevem o que ocorreu como um “necrossistema”, no qual autoridades agiram de forma articulada para desinformar, negar a ciência e promover tratamentos ineficazes, como o famigerado “kit Covid”. Enquanto países adotavam lockdowns e investiam em vacinas, o Brasil virou palco de um experimento macabro de darwinismo social, onde os mais pobres foram condenados à contaminação e à morte.
A presidente da Avico, Rosângela Oliveira Silva, lembra que o Estado brasileiro tem uma dívida histórica com as vítimas. “Havia um sistema coordenado para expor as pessoas ao vírus”, afirma. E, no entanto, até hoje, nenhuma punição para quem compactuou com essa política genocida.
A Justiça que Não Chega
Passados anos do auge da pandemia, as famílias das vítimas ainda lutam por reparação e responsabilização. O acervo pode ser a peça-chave para processos judiciais, mas o sistema parece lento e conivente. Enquanto isso, os mesmos agentes que minimizaram a pandemia, boicotaram máscaras e difamaram vacinas seguem livres, alguns até reconduzidos a cargos públicos.
Soraya Smaili, coordenadora do projeto, ressalta que o acervo é um “testemunho histórico” dos erros cometidos. Mas testemunhas não bastam—é preciso ação. Se o Ministério Público e o Judiciário não agirem com urgência, estarão compactuando com a impunidade de um governo que transformou a saúde pública em carnificina.
Memória para Não Repetir
A luta das famílias não é apenas por indenizações—é por justiça. O acervo serve também para que futuras gerações saibam: a pandemia não matou aleatoriamente. Ela foi administrada de forma criminosa, com discursos que incentivavam aglomerações, ataques a governadores que defendiam lockdowns e um desmonte deliberado do SUS.
Se o Brasil quer virar a página desta tragédia, precisa encarar a verdade. E a verdade é que houve crime. Resta saber se haverá punição—ou se, como sempre, os poderosos seguirão impunes, enquanto o povo paga com o luto.
A pergunta que fica não é ‘se’, mas ‘quando’. Quando a justiça será feita?
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