O desabamento parcial de um casarão na Rua Viana Vaz, no Centro Histórico de São Luís, na Sexta-Feira Santa (18), é mais um capítulo triste na história de abandono que atinge não apenas os imóveis tombados, mas também as pessoas que vivem nesses espaços. Apesar da sorte de não haver vítimas, o incidente expõe a negligência do poder público com a preservação do patrimônio cultural e a falta de políticas habitacionais eficazes para famílias em situação de vulnerabilidade.
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O casarão, que já abrigou o poeta Valdelino Cécio, figura importante da literatura maranhense, integra uma área tombada pelo governo do estado. No entanto, o tombamento, sozinho, não garante conservação. A responsabilidade, segundo a Fundação Municipal do Patrimônio Histórico (FUMPH), cabe à Superintendência do Patrimônio Cultural do Estado (SECMA). Mas de que adianta repassar responsabilidades se não há investimento em manutenção preventiva? Quantos outros imóveis históricos estão à beira do colapso, esperando apenas o próximo temporal para desabar?
Enquanto isso, a assistência social oferecida às famílias afetadas parece mais um protocolo burocrático do que uma solução efetiva. A Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social (SEMCAS) afirmou ter oferecido “benefício eventual de moradia” a três pessoas, que recusaram o auxílio. Mas será que a recusa se deu por teimosia ou porque os serviços oferecidos são insuficientes e descolados da realidade dessas pessoas? Quantas vezes políticas públicas são elaboradas de cima para baixo, sem ouvir quem realmente precisa delas?
O Centro Histórico de São Luís, reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, é um cartão-postal que vive entre a beleza arquitetônica e a degradação. Seus casarões abrigam histórias, mas também famílias que lutam diariamente contra a falta de infraestrutura e o descaso. Não basta isolar a área após o desabamento; é preciso agir antes que tragédias aconteçam.
É urgente que o poder público invista não apenas na restauração de fachadas para o turismo, mas na manutenção estrutural desses imóveis e em políticas habitacionais que garantam dignidade aos moradores. O patrimônio histórico só tem sentido se estiver vivo, ocupado e cuidado – não como um museu vazio, mas como parte integrante da cidade e da vida de sua gente.
Enquanto o Maranhão celebrar sua cultura apenas no discurso e negligenciá-la na prática, continuaremos a assistir, impotentes, ao desmoronar não apenas de paredes, mas de nossa própria memória.
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