Menor peixe cascudo-graveto é descoberto no Mato Grosso e ganha nome indígena

Cascudo Farlowella kirane foi descoberto na bacia do alto rio Paraguai, no Mato Grosso

Cientistas brasileiros descreveram a menor espécie de cascudo-graveto até o momento conhecida, um peixe que não ultrapassa os 10 centímetros de comprimento e vive em riachos da bacia do alto rio Paraguai, no Mato Grosso. Batizada de Farlowella kirane, a nova espécie teve sua descoberta detalhada em um artigo publicado na revista Neotropical Ichthyology.

A identificação foi um verdadeiro trabalho de detetive que começou durante o doutorado da pesquisadora Manuela Dopazo, no Museu Nacional/UFRJ. Ao revisar o gênero Farlowella, ela analisou cerca de 5.000 exemplares do gênero depositados em diferentes coleções científicas do Brasil e exterior, sendo quase 200 exemplares da nova espécie guardados em coleções científicas do Brasil, verdadeiras bibliotecas da biodiversidade. 

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Esse material, coletado por diferentes pesquisadores em diversas épocas, permitiu confirmar que os peixes pequenos eram de fato adultos de uma nova espécie, e não apenas juvenis de uma já conhecida. “Quando um especialista vai de fato se aprofundar, acaba vendo que pode ser outra espécie”, explica o coautor Marcelo Ribeiro de Britto.

O nome da nova espécie é uma homenagem aos povos indígenas que habitam ancestralmente este território. “Nós queríamos fazer uma relação com algo que fosse pequeno. Pensando onde a espécie ocorre, próximo à Chapada dos Parecis, tentamos buscar na família linguística dos povos Paresí como seria um termo correspondente a ideia de ‘pequeno’, para poder fazer essa associação”, conta Dopazo. A busca pelo termo mais adequado apontou como possibilidade a palavra “kirane”.

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O peixe pertence ao grupo popularmente conhecido como cascudo-graveto, um nome que faz jus à sua aparência. Com um corpo fino e alongado e uma coloração marrom, ele se camufla perfeitamente entre os galhos e folhas que caem na água. “Eles ficam ali no meio daqueles galhos e gravetos e meio que se confundem, justamente para tentar afastar os predadores”, detalha Britto.

Para os pesquisadores, descrever uma nova espécie é o primeiro e mais fundamental passo para a conservação. “Antes de propor qualquer projeto para conservação das espécies, precisamos primeiro conhecê-las e entendê-las”, afirma Dopazo. Conhecer a biodiversidade do país é uma obrigação prevista na Constituição e essencial para entender o equilíbrio dos ecossistemas e, consequentemente, a qualidade de vida das pessoas.

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A descrição da Farlowella kirane não fecha um ciclo — abre outro. O tamanho da espécie suscita perguntas sobre a evolução: que pressões ecológicas levaram a esse encolhimento extremo? Que papel um “adulto em miniatura” ocupa no ecossistema? Encontrar um peixe tão discreto e tão bem adaptado lembra que a biodiversidade brasileira ainda guarda segredos, mesmo em rios já muito explorados.

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