Se é assim em Pernambuco, se é assim no Pará, por que o Maranhão seria diferente?

O parentesco deixa de ser um detalhe biográfico para se tornar a qualificação principal.

Em pleno 2025, a defesa mais ardorosa do coronelismo vem da boca de seus herdeiros diretos. Ao justificar sua pretensa candidatura ao governo do Maranhão, o secretário Orleans Brandão, sobrinho do governador Carlos Brandão, não se constrangeu. Pelo contrário, adotou uma estratégia reveladora: para legitimar a perpetuação do seu clã no poder, ele apontou para outros clãs. É o “playbook dos Barões”: um manual onde o poder é tratado como herança genética e o Estado, como um espólio familiar.

A fala de Orleans na Mirante FM foi um ato falho da elite política. Ao citar os Campos (PE) e os Barbalho (PA) como exemplos a serem seguidos, ele não estava se inspirando em “trabalho sério e sólido”, mas sim na eficácia com que essas dinastias controlam territórios e sufocam a oposição. O argumento é de uma perversidade circular: “Pode, porque os outros também fazem”. É a ética do faroeste, adaptada aos palácios de concreto. Se é assim em Pernambuco, se é assim no Pará, por que o Maranhão seria diferente?

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Esta é a essência da “coronelização”: a normalização de um absurdo. O parentesco deixa de ser um detalhe biográfico para se tornar a qualificação principal. O projeto de governo se resume ao projeto de sucessão. O que está em jogo no Maranhão transcende a figura de Orleans. É a consolidação de um sistema onde a política vira um negócio de família, fechado a sócios de mesmo sangue. O estado, um dos mais pobres do país, não pode se dar ao luxo de ter seu futuro decidido em jantares de família e acordos de bastidor.

Este fenômeno é a antítese da democracia real e a cara da direita maranhense. Enquanto se fala em representatividade, os clãs promovem o apadrinhamento. Enquanto se discute justiça social, eles consolidam a justiça privada. A concentração de poder nas mãos de poucas famílias é a mais eficiente máquina de produzir desigualdade. Ela nega o direito da população de escolher seus rumos, substituindo o voto popular por uma sucessão hereditária disfarçada.

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A inspiração de Orleans em outros clãs não o absolve; o condena. Ele não é um caso isolado, mas parte de uma rede que estrangula a inovação política e mantém o Brasil refém de seu passado oligárquico. O povo maranhense merece mais do que ser governado por um sobrenome. Merece ideias, projetos e a chance de construir um futuro que não seja apenas a repetição do passado de suas elites. A hora é de rejeitar esse playbook e escrever, pelas urnas, um novo capítulo na história do estado.

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