Peixes de estuários e manguezais do Nordeste têm mais micronutrientes que outras proteínas animais

Dados nutricionais dos peixes foram confrontados com a composição de carnes bovina, suína, de frango e ultraprocessadas

No Nordeste brasileiro, peixes encontrados em manguezais e estuários – ambientes de transição entre rio e mar – apresentam níveis semelhantes, ou mesmo superiores, de micronutrientes quando comparados a carnes de outros animais. É o que mostra pesquisa conduzida em parceria pelas universidades federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e de Santa Maria (UFSM) publicada na revista Perspectives in Ecology and Conservation.

Os resultados ressaltam a importância desses animais para a promoção da segurança alimentar e nutricional das comunidades costeiras, em especial daquelas com acesso limitado a outras fontes de proteínas, e reforçam a necessidade de conservar os ecossistemas que sustentam essas espécies.

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A equipe comparou os teores de cálcio, ferro, zinco, selênio e ômega-3 de 17 espécies de peixes ósseos capturados em estuários do Nordeste com os encontrados em outras fontes de proteína animal. As espécies foram selecionadas a partir de estudos publicados entre 1994 e 2005 sobre peixes importantes para comunidades costeiras do norte do Maranhão ao sul da Bahia. Os dados nutricionais foram, então, confrontados com a composição de carnes bovina, suína, de frango e ultraprocessadas, como a salsicha, com todos os nutrientes padronizados para cada 100 gramas de parte comestível.

A concentração média de cálcio nos peixes foi cerca de três vezes maior que na salsicha e quase 18 vezes maior que na carne bovina, de frango e suína. O teor médio de ômega-3 dos peixes foi 80 vezes superior ao das outras fontes alimentares. O ferro apresentou média 1,8 vez maior que no frango e semelhante ao da carne suína, enquanto os valores de zinco se mostraram próximos aos do frango. Já o teor médio de selênio foi cerca de quatro vezes superior ao da carne suína e semelhante às concentrações do frango e da carne bovina.

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Considerando esses valores médios, uma porção de 100 gramas de peixe pode fornecer aproximadamente 31% da ingestão diária recomendada de ômega-3, 100% de selênio, 20% de zinco, 17% de ferro e 13% de cálcio. Espécies como a tainha (Mugil curema), a carapeba (Diapterus rhombeus) e o carapicu (Eucinostomus argenteus) são particularmente ricas em cálcio e ferro.

“Demonstrar o potencial desses peixes em suprir demandas nutricionais das populações é uma ferramenta importante para valorização e conservação dos ecossistemas estuarinos e de manguezal”, argumenta o pesquisador da UFRN Guilherme Longo, autor do estudo. Diante desse cenário, o pesquisador avalia que o agravamento de problemas ambientais pode ganhar escala e gerar problemas de saúde pública. “Esses recursos são frequentemente mais acessíveis a populações em vulnerabilidade social, que não necessariamente teriam acesso a outras fontes de proteína animal capazes de suprir a demanda de micronutrientes”, ressalta.

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A pesquisa faz parte de uma série de trabalhos da rede PPBio/INTEGRAMar que visa demonstrar a importância de conservar ambientes naturais saudáveis como forma de garantia dos benefícios que eles oferecem, como o alimento e os micronutrientes. “Temos outras pesquisas em andamento sobre temas como o consumo de frutos do mar nos estados litorâneos do Brasil, além de estratégias para refinar os dados obtidos e prever os impactos da perda dessas espécies no potencial de provisão de micronutrientes”, exemplifica. “A principal questão aqui não é, necessariamente, aumentar o consumo dos pescados, mas promover esforços que mantenham o ambiente saudável para que os peixes continuem a oferecer os micronutrientes necessários às populações”, conclui.

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