Em um diálogo que revelou as nuances de seu pensamento, o escritor, poeta e advogado Daniel Blume falou sobre a simbiose entre suas duas grandes paixões: a literatura e o direito. Para ele, longe de serem mundos apartados, essas esferas se alimentam mutuamente, com a justiça frequentemente servindo como musa inspiradora para a criação artística.
✅ Seja o primeiro a ter a notícia. Clique aqui para seguir o novo canal do Cubo no WhatsApp
Ao comentar a famosa afirmação do jurista Lenio Streck de que “a literatura ajuda a existencializar o direito”, Blume apresentou uma perspectiva complementar. Ele argumenta que é a existência, com suas carências e demandas por justiça, que fundamenta o direito. “Prefiro pensar que o Direito clama pela justiça por meio das leis e a literatura, por meio do discurso e da arte”, refletiu.
A literatura, em sua visão, atua como uma ferramenta crucial para expor os frutos da injustiça perante a sociedade. Esse processo, segundo o poeta, pode despertar no profissional do direito a necessidade de atuar por um mundo mais justo. “Daí nasce a luta com a palavra literária. Necessária, mesmo que vã”, ponderou.
O direito à literatura
Questionado sobre o pensamento do crítico Antonio Candido, para quem a literatura é um direito humano básico, Blume foi enfático ao apontar os desafios. Ele destacou que, antes da democratização do acesso aos livros, é preciso uma política massiva e eficaz de alfabetização e formação de leitores. “Reunir livros e livros de literatura não é lucro quando a realidade está vazia de leitores”, afirmou, enfatizando a necessidade de articular o tema em todos os níveis da educação e dos centros de conhecimento.
A lei como liberdade
Sobre a influência dos clássicos em sua formação jurídica, o autor citou obras como “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, e a produção de Machado de Assis. Blume extrai da literatura uma analogia poderosa para o direito: a ideia de que a lei deve ser vista mais como uma chave libertadora do que como uma algema restritiva. “A lei pode ser mais do que algema, a chave para destrancá-la”, explicou.
Sua trajetória com as palavras começou na infância, rodeado por livros. O vínculo com a poesia se fortaleceu justamente quando encontrou no contexto jurídico uma nova fonte de inspiração. “Quando a poesia poderia ter cessado, aí o contexto jurídico lhe abriu mais portas. E continua abrindo”, contou.
Raízes maranhenses e criação literária
Ao falar de suas influências na literatura maranhense, Blume citou nomes como José Chagas, Bandeira Tribuzi e Ferreira Gullar. Sobre este último, disse que sua poética “consome a cada vez que leio”.
Sobre seu próprio processo criativo, especialmente em “Cartas ao Neto”, livro elogiado pela crítica, o poeta preferiu não desvendar totalmente o jogo proposto pela obra. “Qual relação há entre cartas e cartadas? Por que cartas ao neto e não carta ao neto, se os versos são maquiavélicos?”, provocou, deixando a interrogação como um convite à leitura.
Aos leitores, Daniel Blume estendeu um convite para uma coautoria. “Uma parte dos meus poemas são meus e a outra parte é de vocês. Fiquem à vontade para compor comigo”, finalizou.


Deixe um comentário