📝 Este é um editorial do Portal Cubo.
As opiniões aqui expressas refletem a visão do Cubo e têm como objetivo promover o debate crítico sobre temas relevantes à sociedade.
Há uma máquina de produzir consenso. Ela funciona 24 horas por dia, em seriados de TV, em blockbusters de Hollywood e nos discursos solenes de políticos em Washington. Sua mensagem central é única e repetida à exaustão: “Nós somos o farol da liberdade no mundo”. Esta narrativa, no entanto, desaba como um castelo de cartas diante da mais recente medida do Pentágono: a exigência de que jornalistas submetam suas reportagens à censura prévia de agentes do Departamento de Defesa dos EUA.
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O que vemos é a exposição crua da hipocrisia fundamental do imperialismo. Os Estados Unidos, que se vendem como paladinos da liberdade de expressão e que, não raro, utilizam essa bandeira para justificar sanções e até intervenções contra outros países, mostram sua verdadeira cara. É a ditadura da informação travestida de democracia. É a lei do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” em sua forma mais perversa e perigosa.
A fala do secretário de Defesa, Pete Hegseth, “a imprensa não comanda o Pentágono”, é a síntese desse autoritarismo. Em um país verdadeiramente democrático, quem deveria comandar as instituições é o povo, por meio de seus representantes eleitos e, crucialmente, por meio de uma imprensa livre que cumpra o papel de cão de guarda do poder. Ao silenciar o escrutínio, o Pentágono não está apenas calando repórteres; está confiscando o direito soberano do cidadão de saber como seus impostos são gastos, como suas guerras são travadas e quantas vidas são sacrificadas no altar de interesses geopolíticos e do complexo industrial-militar.
É a consolidação de um projeto político que vem sendo implementado pelo governo Trump, que trata a verdade como um inimigo. Ameaças a emissoras de rádio e TV, a retirada do ar de um apresentador crítico sob pressão da Casa Branca e, agora, a censura formal na instituição mais sensível do Estado. É um manual clássico de autocracia: controle a narrativa, controle os fatos e, por fim, controlará a população.
A Fundação Liberdade para Imprensa aponta corretamente a violação da Primeira Emenda. Mas a questão vai além da legalidade constitucional norte-americana. É uma questão de luta de classes em escala global. A “liberdade de expressão” que o império propaganda é, em última análise, a liberdade dos grandes monopólios midiáticos, aliados do capital, de defenderem seus interesses. Já a liberdade de expressão que incomoda, que investiga os porões do poder, que expõe as entranhas do militarismo: essa é prontamente sufocada. É uma liberdade seletiva, um privilégio de classe estendido aos meios de comunicação que servem ao status quo.
Para nós, no Brasil e na América Latina, este episódio serve como um alerta solene. Conhecemos bem o gosto amargo da censura e da ditadura, muitas vezes apoiadas e financiadas por esse mesmo poder que hoje mostra suas garras em casa. Não há “exportação de democracia” que seja sincera quando a própria democracia é assassinada no quintal de casa.
A verdadeira luta pela liberdade de imprensa é antagônica aos interesses do imperialismo. Ela não pode ser defendida por aqueles que, ao mesmo tempo, patrocinam golpes e guerras. Defender o direito de o povo saber é lutar contra a ditadura da desinformação, seja ela imposta por um general em um palácio ou por um burocrata em um corredor do Pentágono. O silêncio que tentam impor é o mesmo que ecoa nas covas de tantos lutadores populares. Não podemos permitir que ele vença.


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