📝 Este é um editorial do Portal Cubo.
As opiniões aqui expressas refletem a visão do Cubo e têm como objetivo promover o debate crítico sobre temas relevantes à sociedade.
Não é de hoje que o cenário político brasileiro se assemelha mais a um campo de batalha entre torcidas organizadas do que a um debate robusto de ideias e projetos para o bem comum. O fenômeno da idolatria política, como bem apontado pelo cidadão que inspirou este texto, não é uma mera curiosidade comportamental; é uma ferramenta poderosa de alienação que serve aos interesses de uma elite acostumada a governar para si mesma.
✅ Seja o primeiro a ter a notícia. Clique aqui para seguir o novo canal do Cubo no WhatsApp
O caso de São Luís, citado em um relato cotidiano, é um microcosmo de um Brasil que se acostumou a celebrar o pão duro enquanto tem direito ao banquete. A defesa ferrenha e irracional de figuras como o prefeito Eduardo Braide, onde qualquer questionamento é visto como afronta e qualquer denúncia, como mera manobra de opositores, é sintoma de uma doença social profunda: a substituição da cidadania pela fanfic.
Essa relação doentia não nasce por acaso. Ela é cultivada. É o resultado de séculos de uma estrutura social oligárquica que trata o poder público como feudo e a população, como súdita. Quando se naturaliza que o básico, uma rua esburacada parcialmente pavimentada, a pintura de uma escola decadente, seja recebido como um favor monumental, estamos diante de um projeto de poder. Um projeto que depende da mediocridade e da baixa autoestima coletiva para se perpetuar.
A pergunta retórica do colega de trabalho, “mas tu quer o que? que fulano seja eleito?”, revela a armadilha perfeita. Ela reduz o complexo exercício da governança a uma binaridade tosca: “ou você está conosco, ou está contra nós”. Essa lógica de guerra elimina o mais vital dos espaços democráticos: o do direito de cobrar. Quem foi eleito não é um monarca ungido, mas um servidor público. Seu mandato é um contrato, não um salvo-conduto.
Enquanto nos distraímos com a coreografia das rivalidades pessoais entre Braide e Brandão, os verdadeiros problemas (a submissão ao cartel do transporte público, a deficitária oferta de educação, a judicialização constante de direitos básicos) seguem intocados. A “torcida organizada” do político, muitas vezes financiada por estruturas de marketing digital e alimentada por um sentimento genuíno, mas manipulado, de esperança, faz o trabalho sujo para o poder estabelecido: desvia o foco do que realmente importa.
Idolatrar um político é desistir de ser cidadão para ser fã. É abrir mão do direito de exigir mais e melhor. Essa cultura do messianismo político, herdeira direta de nossas mais arraigadas desigualdades, é o maior entrave ao progresso real. Só quando rompermos com a lógica de torcida e reassumirmos o papel de fiscais implacáveis do poder, cobrando não o básico, mas o excepcional que nos é de direito, é que teremos de fato uma cidade, e um país, para todos, e não para uns poucos e seus seguidores.


Deixe um comentário