A fome do lucro: como o agronegócio exportador esvazia o prato do brasileiro

O Brasil é o maior produtor mundial do grão, mas 65% da colheita é exportada, enquanto o feijão, base da alimentação nacional, perde espaço nas lavouras.

A alta dos preços dos alimentos em 2024, que chegou a 7,69%, não é um problema passageiro ou um simples “azar” do momento. É o resultado de uma lógica econômica que prioriza o lucro de grandes empresas e exportadores em vez de garantir comida acessível para a população. O livre mercado, tão defendido pela direita, está diretamente ligado a essa inflação que pesa no bolso do brasileiro. Vamos entender como isso acontece.

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O livre mercado funciona com base na oferta e demanda. Se um produto é muito procurado, seu preço sobe. Se há muita oferta, o preço cai. Parece justo, mas, na prática, essa lógica tem consequências graves quando se trata de alimentos.

No Brasil, o agronegócio é voltado principalmente para a exportação. Produtos como soja, milho e carne são vendidos para outros países porque lá fora pagam mais. Isso faz com que os produtores brasileiros prefiram plantar e criar animais para exportar, em vez de produzir alimentos que abastecem o mercado interno, como feijão, arroz e verduras.

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Vamos pegar o caso da soja. O Brasil é o maior produtor mundial desse grão, mas 65% da produção é exportada. Enquanto isso, o feijão, que é um alimento básico no prato do brasileiro, perde espaço nas lavouras. De 1993 a 2023, a área plantada de soja quadruplicou, enquanto a de feijão diminuiu.

O que acontece? Com menos feijão sendo plantado, a oferta cai, e o preço sobe. Em 2022, o feijão carioca ficou 27,77% mais caro. Já a soja, que é exportada, não ajuda a alimentar o brasileiro. O livre mercado, nesse caso, incentiva os produtores a priorizarem o que dá mais lucro, mesmo que isso signifique menos comida no prato da população.

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Outro problema do livre mercado é que ele deixa o Brasil refém das crises internacionais. Quando há guerras, como a da Ucrânia, ou problemas climáticos, como secas e enchentes, os preços dos alimentos sobem no mundo todo. Como o Brasil exporta grande parte do que produz, esses aumentos são repassados para o consumidor aqui dentro.

Em 2024, por exemplo, a carne ficou 20,84% mais cara, mesmo com o país batendo recordes de exportação. Ou seja: o Brasil produz muita carne, mas, como o livre mercado prioriza a venda para o exterior, o preço interno dispara.

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O problema é estrutural, ou seja, está na base do modelo econômico que o Brasil adotou. Para mudar isso, é preciso que o governo intervenha, regulando as exportações e garantindo que parte da produção seja destinada ao mercado interno.

Algumas medidas poderiam ajudar:

  1. Regular as exportações: Limitar a quantidade de alimentos que podem ser vendidos para o exterior, garantindo que haja estoques suficientes para o consumo interno.
  2. Apoiar a agricultura familiar: Incentivar pequenos produtores a plantarem alimentos básicos, como feijão, arroz e verduras, que abastecem diretamente a população.
  3. Criar estoques públicos: O governo pode comprar alimentos em épocas de safra, quando os preços estão baixos, e vendê-los em momentos de alta, ajudando a controlar os preços. O Brasil tinha esses estoques, mas a gestão Bolsonaro acabou com eles, vendendo a preço de ‘banana’.
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O livre mercado, sem regulação, pode ser um grande vilão para a segurança alimentar. Enquanto o lucro for a prioridade, o prato do brasileiro continuará mais caro e menos nutritivo. É preciso repensar esse modelo e garantir que a produção de alimentos atenda, em primeiro lugar, às necessidades da população. Comida não é mercadoria: é um direito básico. E garantir esse direito é dever do Estado.

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