Circula pelas redes sociais que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) matou um soldado nos anos 1960. A publicação, que já circulou em anos anteriores, diz que a ex-presidente da república jogou uma granada no portão do quartel general do exército e que esse atentado culminou com a morte do soldado Mário Kozel Filho. Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
“DA SÉRIE: “COISAS QUE VOCÊ NUNCA APRENDEU NOS LIVROS DE HISTÓRIA DO MEC.
HOJE FAZ 52 ANOS QUE A EX PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF MATOU O SOLDADO MARIO KOZEL FILHO, JOGANDO UMA GRANADA NO PORTÃO DO QUARTEL GENERAL DO EXÉRCITO. SIM, TIVEMOS UMA TERRORISTA ASSASSINA COMO PRESIDENTE!”
Texto em post que circula no Facebook que, até as 14h de 25 de maio de 2021, tinha mais de 380 compartilhamentos
FALSO
A informação analisada pela Lupa é falsa. A ex-presidente Dilma Rousseff não é responsável pela morte de Mário Kozel Filho, 53 anos atrás. Na madrugada de 26 de junho de 1968, o soldado foi atingido por uma explosão provocada por uma caminhonete com 20 quilos de dinamite — e não por uma granada, como sugere a publicação — que foi conduzida para atingir os fundos do Quartel General do 2º Exército, na cidade de São Paulo. Outras cinco pessoas ficaram feridas. Esse ataque foi atribuído ao grupo Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), contrário à ditadura militar instalada no Brasil desde 1964. Dentre os acusados pelo atentado, dez foram presos e dois foram mortos pelos militares. Dilma não estava entre os suspeitos.
Apenas uma pessoa estava no veículo que foi arremessado no quartel, o motorista, que pulou do carro ainda em movimento e foi resgatado por cúmplices em outro veículo. Segundo relatos do Exército e de jornais da época, um sentinela disparou seis tiros contra o veículo quando o viu se aproximar. O carro-bomba bateu contra um poste e foi então que Kozel se aproximou. Na sequência, o carro explodiu.
Nem mesmo no livro As Tentativas de Tomada do Poder, obra assinada pelos militares Agnaldo del Nero, José Conegundes do Nascimento e Lício Maciel que conta uma versão do exército sobre as ações dos grupos contrários ao regime, o nome da petista aparece entre as pessoas que planejaram e executaram o ataque (página 236).
De acordo com uma ex-integrante da VPR, o motivo da ação teria sido porque alguns dias antes o grupo tinha roubado armas de um hospital militar. Com isso, o então comandante do 2º Exército desafiou guerrilheiros a entrar em quartéis. O grupo aceitou a provocação e lançou o carro-bomba.
A ex-presidente chegou a integrar a VPR, mas somente em 1969. Na época do atentado, ela fazia parte do Comando de Libertação Nacional (Colina), grupo guerrilheiro que passou a agir junto à Vanguarda somente um ano depois da ação. Essas informações constam na biografia de Dilma documentada pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Não há evidências da participação de Dilma em ações armadas no período em que atuou em grupos contrários à ditadura. Ela foi presa em janeiro de 1970 em São Paulo, na onda de repressão às organizações de esquerda desencadeada pela Operação Bandeirante (Oban). Ela foi torturada na prisão e solta no final de 1972. O caso do soldado Mário Kozel Filho não é citado nos arquivos da ditadura referentes a ela.
Esse conteúdo também foi verificado pelo Estadão Verifica e Aos Fatos.
Nota: esta reportagem faz parte do projeto de verificação de notícias no Facebook. Dúvidas sobre o projeto? Entre em contato direto com o Facebook.
Editado por: Chico Marés
Por Agência Lupa.



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