Em depoimento à CPI da Covid-19 no Senado nesta terça-feira (25), a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, usou informações falsas para defender a sua gestão e o uso da cloroquina no tratamento de pacientes com a infecção pelo novo coronavírus.
A secretária é uma das principais defensoras do uso de medicamentos sem comprovação científica em pacientes com Covid-19, como o “kit Covid” com cloroquina ou hidroxicloroquina e azitromicina. Sua posição lhe rendeu a alcunha de “Capitã Cloroquina”. Em fevereiro, Pinheiro escreveu em artigo que críticos do “tratamento precoce” podem ter cometido genocídio.
Ela também foi apontada pelo ex-ministro Eduardo Pazuello como a responsável pelo aplicativo TrateCov, lançado em meio à crise em Manaus e que prescrevia “tratamento precoce” indiscriminadamente.
Em resumo o que checamos:
- É FALSO que o Ministério da Saúde nunca indicou tratamentos para a Covid-19. Notas editadas pela pasta com protocolo de uso de medicamentos sem eficácia comprovada indicavam, na prática, o “tratamento precoce”, segundo documento do CNS (Conselho Nacional de Saúde), que fiscaliza as ações do ministério;
- Também é FALSO que a hidroxicloroquina seja eficaz como tratamento no início da Covid-19. Estudos feitos desde o ano passado mostram que, além de não impedir o agravamento da doença, o remédio pode até aumentar a mortalidade de pacientes;
- Não é verdade que os 22 pacientes acompanhados em estudo sobre a cloroquina em Manaus morreram por causa de doses tóxicas de cloroquina. As mortes não têm relação comprovada com a droga e teriam ocorrido em decorrência da Covid-19;
- É FALSO ainda que este mesmo estudo só tenha obtido o aval da Conep para ser executado depois que já estava pronto. A autorização foi concedida em 23 de março de 2020 e a pesquisa foi iniciada logo em seguida;
- Também é FALSO que o aplicativo TrateCov, que receitava cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid-19, não tenha sido lançado, como afirmado por Mayra Pinheiro. Em cerimônia no dia 11 de janeiro em Manaus, a própria secretária anunciou que a plataforma já estava disponível no site do Ministério da Saúde.
- É FALSA a alegação de Pinheiro de que evidências científicas comprovam a eficácia da hidroxicloroquina, da ivermectina, da cloroquina, e da colchicina contra a Covid-19. Além de não haver estudos que atestem a ação dos medicamentos, autoridades sanitárias negam que elas sejam capazes de tratar a doença;
- É FALSO, ainda, que um jornalista fez extração indevida de dados da plataforma TrateCov. O sistema foi apenas testado e analisado por jornalistas e outros cidadãos antes de ser retirado do ar porque ficou disponível no site do Ministério da Saúde entre 11 e 21 de janeiro.
- É EXAGERADO sugerir que a OMS teria reconhecido que o lockdown pode ser responsável por fome e miséria. Apesar de fazer ressalvas sobre potenciais efeitos negativos da medida, a organização nunca deixou de destacar sua importância e eficácia para conter a disseminação da Covid-19.
- Pinheiro foi IMPRECISA ao dizer que a OMS recomenda que mulheres com HIV amamentem. A organização orienta que os países avaliem o risco de contaminação da criança em comparação ao de morte por desnutrição e dá uma série de recomendações para que a amamentação aconteça de maneira mais segura para o bebê.
- Também é IMPRECISO dizer que a hidroxicloroquina tem ação antiviral. O remédio só teve essa ação comprovada até hoje em células em laboratório, não em estudos com seres vivos.
- A afirmação de Pinheiro de que o Ministério da Saúde tem um repositório de evidências científicas que surgem sobre tratamentos e vacinas contra Covid-19 é IMPRECISA, porque o painel passou cerca de sete meses sem ser atualizado, o que voltou a ocorrer em 17 de maio deste ano.
Por Aos Fatos.
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