Milla Camões nos conta sua história e seus desafios como cantora.
A carioca Milla Camões mora em São Luís há 16 anos. A cantora já é uma maranhense de coração e foi destaque no bloco de carnaval Escangalhada. Ela nos contou que a experiência em se apresentar no bloco foi enriquecedora. “Na verdade, ainda está sendo, porque a Escangalhada está virando um projeto além do carnaval. A gente, de verdade, não acreditava. Acreditávamos que seria muito bom, só não estávamos preparados para a quantidade de pessoas que seguiriam o bloco e quanto isso ia ser tornar interessante e emblemático na vida das pessoas durante esse período”, nos contou. O bloco abriu o carnaval de São Luís tendo como público-alvo a comunidade LGBT e as mulheres feministas. “Eu fico muito orgulhosa de carregar nas costas uma bandeira LGBT, de carregar uma bandeira feminista, que são as bandeiras que a Escangalhada representa”.
Milla Camões começou sua carreira no Rio de Janeiro há 18 anos. Apresentava-se nas noites em bares e também participou de vários projetos como o “Dia Temático da Música”, do Canal Futura. “Eu nunca pensei em trabalhar com música. Na verdade, sempre pensei em trabalhar com cinema, pois minha mãe trabalhou com cinema uma vida toda. Minha Paixão era cinema. Ser cantora foi uma coincidência. Eu conheci meu ex-marido que tocava no Rio e ele achou que eu era afinada e me botou para fazer uns ‘trampos’ com ele e a coisa tomou esse rumo”.
Chegando a São Luís em 2003, Milla Camões se dedicou mais à música, construindo praticamente toda sua trajetória em São Luís. “Tudo que construí e consegui foi aqui”. Ganhadora de vários prêmios como 1º lugar e Melhor Intérprete no 19º FESMAP (Festival de Música de Pinheiro) e de Talento da Noite da Rádio Universidade FM, Milla Camões nos contou seu maior desafio como cantora: de ter reconhecimento legal como artística. A falta de carteira assinada, de ter direitos como plano de saúde, aposentadoria, renumeração abaixo do esperado ainda é um dos maiores desafios de trabalhar e viver como artista. “Eu acho que o maior desafio em ser cantora é viver de música. Viver de música principalmente em um país onde a gente não tem reconhecimento artístico, não temos reconhecimento legal”.
Essas dificuldades complicam seus planos como o lançamento do seu CD. “Nós sabemos que hoje esse mercado já está fechando. Ele caminha ainda mais para esse abismo do ostracismo da arte e isso é muito complicado. Eu queria muito gravar o CD e de continuar o projeto de produção artística que é uma coisa que me fisgou pelo coração esse ano”. As dificuldades não desanimam a cantora que, junto com Vinaa, cantor da música Cidade das Meninas, destaque do Bloco Escangalhada, está organizando o Festival das Rendas que tem como objetivo a representatividade da cultura das rendeiras. O Festival terá com música, exposição e vendas de produtos da comunidade da Raposa.
A cantora tem inspiração nas músicas MPB. “Quando comecei a cantar, minha primeira inspiração foi Elis Regina e não foi nem tanto pela questão de ela cantar, mas me inspirava muito em como traduzia esse canto no corpo dela, no gestual. Ela vivia cada letra, cada palavra que ela cantava. Até hoje isso é uma inspiração”.
Milla Camões ainda lembrou de Marielle Franco, ex-vereadora do Rio de Janeiro, assassinada por milicianos em março de 2018, que é homenageada na música Cidade das Meninas. Milla ainda finalizou a entrevista mandando uma mensagem para todas as mulheres: “Somos todas consciente de que o mundo precisa mudar e que a gente é peça fundamental nesse processo de desenvolvimento para que nosso país mude”.
Share this content:
Descubra mais sobre Cubo
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.