Nas redes sociais está rolando um vídeo falso onde vincula a imagem do jovem João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, ao tráfico e uso de droga. João Pedro foi morto por tiro de fuzil durante uma ação da Polícia Civil do Rio de Janeiro. O vídeo falso pretende matar novamente o jovem garoto.
Com a intenção de justificar a morte de um garoto de 14 anos, bolsonaristas compartilham um vídeo onde um jovem negro usa arma e usa droga. No vídeo, fica claro que não é o garoto João Pedro Matos Pinto. Mesmo assim, não justifica a execução feita pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, pois o garoto continuaria em situação desarmada.
O jovem garoto morava em Itaoca, em São Gonçalo. Em sua casa foi encontrado 72 marcas de disparos de arma de fogo. Em testemunha, o pai de João Pedro, o comerciante Neilton Matos, afirmou que a polícia entrou em sua casa atirando e ainda jogou duas granadas. “A polícia quer forjar uma situação. Não tinha bandido. Entraram na casa e atiraram duas granadas. Além dos tiros. Só tinha adolescentes de família”, afirmou durante o Programa “Encontro com Fátima Bernardes”.
Na versão dos policias, traficantes teriam invadido a casa, atirando e jogado granada contra os policiais, que revidaram. Mas que treinamento esses policias receberam para concluírem que se deve entrar atirando em uma residência invadida? Ignorando as vidas da família que reside naquele local?
No Brasil, foi construído durante anos o estereótipo do negro bandido. Não é de hoje que as mortes de cidadãos negros são justificadas por motivos banais. Conforme Rosangela Gomes, relatora da CPI que investigou a violência contra jovens negros e pobres, os veículos de comunicação contribuem na construção da imagem negro bandido. Por isso, quando um jovem negro morre pela polícia, sempre aparece o discurso de que “ele deve ter feito alguma coisa”. Já é condenado a morte antes mesmo de conhecerem a história. Se é negro e morreu para polícia, então merecia.
Recentemente, dia 25 de maio, nos Estados Unidos da América aconteceu um caso parecido. Um homem negro foi morto asfixiado por um policia enquanto suplicava pela sua própria vida. “Estou ficando sem ar”, estas foram as ultimas palavras de George Floyd. Pai de uma menina de 6 anos e marido de Roxie Washington, Floyd trabalhava de segurança e foi morto prensado pelo joelho de um policial brando de Minneapolis. A acusação: tentou pagar uma conta em uma mercearia com nota falsa de US$ 20. Do mesmo modo como está acontecendo aqui no Brasil, tentaram justificar a morte de um cidadão negro.
Movidos pelo sentimento de injustiça, os cidadãos negros dos EUA entraram no seu oitavo dia de manifestação contra o racismo. Os atos se espalharam para outros países durante o fim de semana, sendo registrado na Austrália, no Reino Unido e na França. Chegando no Brasil, os manifestos ganharam outro tom, além da luta contra o racismo, existe uma luta antifascista.
Enquanto isso, a Fundação Palmares, que deveria ser símbolo da luta do movimento negro, tem um presidente que chama de “escória maldita” quem luta pelos direitos do negro. O jornal “O Estado de S.Paulo” divulgou nesta terça feira áudios de uma reunião de 30 de abril, no qual o Presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, xingou Zumbi e criticou o Dia da Consciência Negra. “Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que pra mim era um filho da puta que escravizava pretos. Não tenho que apoiar Dia da Consciência Negra. Aqui não vai ter, zero – aqui vai ser zero pra [Dia da] Consciência Negra. Quando eu cheguei aqui, tinha eventos até no Amapá, tinha show de pagode com dinheiro da Consciência Negra. Aí, tem que mandar um cara lá, pra viajar, se hospedar, pra fiscalizar… Que palhaçada é essa?”, diz.
Sérgio Camargo é um homem negro que odeia sua linhagem e toda a cultura negra. Pois quando se refere a uma mãe de santo, usa o termo pejorativo “macumbeira” tentando a diminuir. Quando ataca o movimento negro, a religião e até mesmo a imagem de Zumbi, ele mostra o quanto o racismo está impregnado na nossa sociedade. Onde um negro é contra o movimento negro pois quer ser aceito pelos brancos.
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