Artigo discute impactos da abertura de estrada em aldeia indígena

Um artigo publicado na revista “Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas” pela pesquisadora Marina Novo, antropóloga e pós-doutoranda na Unicamp, discute os impactos da abertura de uma estrada em uma aldeia do povo indígena Kalapalo do município de Querência, no Mato Grosso.

O trabalho apresenta os impactos da abertura de uma estrada concluída em 2018, que liga cidades não indígenas à aldeia Aiha, uma das doze aldeias do povo Kalapalo. A pesquisa é fundamentada em diversas visitas à aldeia entre 2006 e 2022, além de atas de reuniões de governança sobre a estrada realizadas entre 2017 e 2019.

De acordo com Marina Novo, o trabalho embasa e ajuda a ampliar a noção de território para além da percepção física de espaços demarcados. A abertura da estrada trouxe implicações diversas, como a facilidade para transporte de pacientes e entrada e saída de profissionais de saúde da região da aldeia. Adicionalmente, facilitou o acesso aos benefícios sociais a que eles têm direito.

Território é um conceito complexo e difere muito do conceito jurídico de Terra Indígena. “O conceito de território é muito mais abrangente, compreendendo o território vivido e as relações estabelecidas com os diversos seres que habitam esse território”, explica Novo.

Apesar de vantagens, essa conexão com o ambiente não indígena também trouxe repercussões negativas. O trabalho aponta que a estrada aumentou significativamente a entrada de turistas que nem sempre têm autorização para permanência em território indígena. Segundo informações dos agentes de saúde, também aumentou a incidência de gripes e outras viroses gastrointestinais.

As questões levantadas pelo estudo podem contribuir para a elaboração de políticas públicas que levem em consideração a diversidade dos povos indígenas e as especificidades de suas relações com seus territórios. “Pesquisas como essa podem contribuir para que cada vez mais essas especificidades e diversidades sejam olhadas e consideradas pelos gestores e tomadores de decisão”, pontua Marina Novo.

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