Com os Jogos Olímpicos, um fenômeno recorrente parece ressurgir no cenário político brasileiro: a promessa de investimento em esporte. Políticos, principalmente aqueles alinhados com a direita, defendem a necessidade de ampliar os recursos destinados às atividades esportivas no país. Contudo, esse discurso é frequentemente questionado por especialistas e pela população, que observam um descompasso entre as promessas feitas e as ações efetivamente implementadas.
Toda vez que as Olimpíadas se aproximam, a narrativa de que o Brasil precisa investir mais em esporte ganha força. Políticos destacam a importância de fomentar o esporte como ferramenta de inclusão social, saúde pública e projeção internacional do país. Discursos inflamados são feitos, destacando a necessidade de apoiar atletas, construir infraestrutura esportiva e incentivar a prática esportiva entre jovens.
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Durante os anos fora das eleições e da época das Olimpíadas, a direita frequentemente argumenta que investir em esporte é desnecessário e que esses recursos deveriam ser direcionados para outros setores, como saúde e educação. Em 2018, o então presidente inelegível Jair Bolsonaro extinguiu os Ministérios da Cultura e dos Esportes, uma medida aplaudida pela direita. Agora, em 2024, os mesmos grupos políticos criticam o atual presidente, Lula, cobrando mais investimentos no esporte e responsabilizando-o pela falta de apoio ao setor.
A realidade, no entanto, mostra um cenário diferente. Após o encerramento das Olimpíadas, o interesse político e financeiro pelo esporte tende a diminuir significativamente. Projetos são engavetados, cortes orçamentários são realizados e a atenção volta-se para outras áreas, deixando atletas e comunidades sem o suporte necessário.
Para 2023, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) que Jair Bolsonaro encaminhou ao Congresso Nacional previu um corte de R$ 108 milhões na área esportiva, uma redução de 36% em comparação com o último ano de seu governo. A verba do esporte de rendimento, voltado para competições, caiu de R$ 215,3 milhões para R$ 184,9 milhões. No esporte comunitário, a perda foi ainda maior: 90%, passando de R$ 86,9 milhões para apenas R$ 8,9 milhões.
A retirada de recursos da área não é uma opção recente. Em 2020, com a aprovação da primeira lei orçamentária do governo Bolsonaro, a Secretaria do Esporte recebeu 49% a menos que no ano anterior. Dois terços dos funcionários da pasta foram demitidos. O edital do Bolsa-Atleta foi cancelado e um novo edital só foi publicado em 2021.
Em um estudo recente, foi constatado que o investimento público em esporte no Brasil é significativamente inferior ao de outros países com desempenho olímpico semelhante. Países como Austrália e Reino Unido, que também não têm uma tradição esportiva tão enraizada, conseguiram melhorar seus desempenhos em competições internacionais justamente por manterem investimentos consistentes e contínuos, independentemente do calendário olímpico.
A falta de investimento contínuo afeta diretamente os atletas. Muitos enfrentam dificuldades para se manter no esporte devido à falta de apoio financeiro e infraestrutura inadequada. “A cada ciclo olímpico, a gente vê promessas de investimento que nunca se concretizam. Depois dos Jogos, é como se esquecessem da gente,” desabafa um atleta brasileiro que participou das últimas Olimpíadas.
Para muitos atletas, a preparação para competições internacionais exige anos de dedicação, treinamento intenso e recursos que muitas vezes são escassos. Sem apoio constante, muitos são obrigados a abandonar o esporte ou buscar alternativas no exterior, onde encontram melhores condições de treino e financiamento.
Especialistas defendem que o investimento em esporte deve ser uma política de Estado, e não apenas uma medida emergencial em anos olímpicos. Programas de base, incentivos fiscais para empresas que patrocinam atletas e a construção de centros de treinamento são algumas das medidas apontadas como essenciais para o desenvolvimento esportivo sustentável no país.
Enquanto as promessas de investimento surgem a cada ciclo olímpico, a pergunta que fica é: quando o Brasil verá uma mudança real e duradoura no apoio ao esporte?
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