Circula pelas redes sociais um vídeo em que um homem ativa a função Bluetooth do celular em um supermercado com várias pessoas. Em seguida, ele mostra a tela do aparelho, que exibe uma lista na qual cada linha é formada por um código com seis duplas de letras e números, separadas por dois pontos. Segundo o narrador da gravação, trata-se das pessoas vacinadas contra Covid-19 que estão no local. Elas poderiam ser detectadas por qualquer smartphone, uma vez que carregariam chips aplicados com os imunizantes. Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
“Olha só. Tudo isso aqui é o pessoal que foi vacinado. Todo mundo que levou sua marquinha agora pode ser identificado. Isso é o que o meu Bluetooth está conseguindo pegar. É a marca do chip da vacina”
Áudio em post publicado no Facebook que, até as 15h de 8 de julho de 2021, tinha 7 compartilhamentos
FALSO
A informação analisada pela Lupa é falsa. Os números que aparecem no visor do celular exibido no vídeo são endereços Bluetooth de dispositivos eletrônicos que usam essa tecnologia – como outros smartphones, fones de ouvido ou relógios inteligentes próximos. “Ele estava sintonizando todos os celulares do supermercado com o Bluetooth habilitado. São os Bluetooths dos celulares das pessoas que estavam no supermercado naquele instante”, afirmou, por telefone, o professor Marcelo Zuffo, do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
Todos os aparelhos com Bluetooth podem ser “vistos” quando alguém deixa essa função ativada. Isso permite que se faça o pareamento, ou seja, a conexão sem fio entre dois ou mais equipamentos munidos dessa tecnologia. Para ver os aparelhos próximos, basta ativar a função Bluetooth do celular. Com isso, uma busca pela área é feita automaticamente. Como há sempre várias pessoas em um supermercado – clientes ou funcionários –, a lista que aparece acaba sendo longa, como a que foi mostrada no vídeo. Se a pessoa repetir a experiência em casa, haverá poucos resultados ou nenhum. A Lupa fez o mesmo procedimento da gravação em um supermercado e obteve uma lista semelhante.
O código que aparece para designar cada dispositivo é o endereço Bluetooth definido pelos fabricantes. Todos os aparelhos com essa tecnologia recebem um identificador escrito em código hexadecimal, que consiste em seis duplas formadas por uma combinação dos algarismos de 0 a 9 e das letras A, B, C, D, E e F – por exemplo, 1A, 34 ou 2D – separadas por dois pontos. Os nomes comerciais atribuídos aos dispositivos não aparecem diretamente para garantir a privacidade. Por isso, abaixo desse código costuma vir a mensagem: “O nome do aparelho será exibido quando este aparelho estiver conectado”. É preciso haver o pareamento, o que só ocorre se o dono do outro equipamento autorizar. Não se deve, no entanto, fazer isso com dispositivos desconhecidos.
Além disso, não há qualquer registro de que tenha sido criado um dispositivo microscópico funcional com Bluetooth que poderia ser injetado com uma seringa em uma pessoa. Como os menores aparelhos com essa tecnologia, chamados de beacons, dependem de antenas e baterias, seu tamanho ainda está na casa de alguns poucos centímetros. Esses pequenos dispositivos usam o Bluetooth de Baixa Energia, ou BLE, na sigla em inglês, e têm múltiplos usos. Podem, por exemplo, monitorar a movimentação de clientes dentro de um supermercado para registrar hábitos de consumo ou oferecer promoções-relâmpago para quem passa em um determinado corredor, entre outras aplicações.
Nota: esta reportagem faz parte do projeto de verificação de notícias no Facebook. Dúvidas sobre o projeto? Entre em contato direto com o Facebook.Editado por: Chico Marés
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